Durante a semana passada, a bancada do PMDB da Câmara iniciou uma "rebelião" contra o governo Dilma Rousseff. A bancada federal peemedebista divulgou uma nota abrindo mão da indicação dos ministros do Turismo e Agricultura, pastas comandadas atualmente por Gastão Vieira (PMDB-MA) e Antônio Andrade (PMDB-MG), respectivamente, dentro da cota do "PMDB da Câmara".
A "rebelião" ocorreu depois que Dilma Rousseff ofereceu o Ministério da Integração Nacional ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), pré-candidato ao governo do Ceará. Com isso, Dilma pretendia "tirar" Eunício da disputa pela sucessão do governador Cid Gomes (PROS) no Ceará, facilitando um entendimento entre PROS e PT (hoje, o PMDB cobra o apoio do PROS e do PT à candidatura de Eunício). Mais do que isso, a presidente, ao ceder a Integração Nacional ao PMDB, pretendia transferir a pasta do Turismo do PMDB para o PTB, ampliando assim sua futura aliança eleitoral.
A possibilidade de perder um ministério e ficar em desvantagem na disputa com o "PMDB do Senado", que passaria a contar com três pastas (Minas e Energia, Previdência Social e Integração Nacional) causou profunda irritação no "PMDB da Câmara", que ficaria com apenas uma pasta (Agricultura). Vale destacar que apesar de o PMDB possuir cinco ministérios, a quinta pasta (Secretaria de Aviação Civil, comandada por Moreira Franco) é tida como da cota do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP).
O clima de insatisfação da bancada do PMDB na Câmara para com o governo foi tornada pública pelo líder do partido na Casa, deputado Eduardo Cunha (RJ), em entrevista ao jornalista Josias de Souza. Cunha, além de criticar a divisão de poder na Esplanada, onde o PT comanda 17 pastas, criticou fortemente o novo chefe de Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Segundo Eduardo Cunha, Mercadante teria pedido que ele "ajudasse no processo" da Reforma Ministerial. Cunha respondeu que a proposta feita ao PMDB – de não ampliação de espaços – era "inaceitável". Também relatou a Mercadante o clima de "rebelião" existente na bancada.
De acordo com o deputado, o chefe da Casa Civil teria dito à presidente Dilma Rousseff que o PMDB da Câmara romperia com o governo, o que é negado pelo peemedebista. Em função desse problema na Câmara, Dilma teria decidido suspender a negociação com o PMDB em torno da Reforma Ministerial.
Apesar das divergências e da reação da bancada do PMDB da Câmara, a possibilidade de um rompimento com o PT e o governo é remota. Ao que tudo indica, o partido está endurecendo o jogo com o Palácio do Planalto com o objetivo de preservar as duas pastas (Turismo e Agricultura) que possui atualmente.
O PMDB da Câmara joga também pensando na correlação de forças internas. Com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) muito fortes junto ao Planalto, os deputados peemedebistas temem perder ainda mais poder internamente.
Outro ponto importante a ser destacado é que a disputa eleitoral de outubro preocupa o PMDB da Câmara. Como o partido deseja reeleger o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) presidente da Casa, conquistar a maior bancada é fundamental.
Mesmo que a tendência é que haja um entendimento entre a bancada do PMDB da Câmara e o governo, o Planalto precisa gerenciar melhor seu relacionamento com os deputados federais peemedebistas. Ressalte-se que novos tensionamentos poderão, como forma de retaliação, levar o partido a dar andamento à chamada "pauta bomba", criando problemas na área fiscal para o governo Dilma Rousseff.
Tensões no Congresso podem ser reflexo das insatisfações do PMDB com a resistência do PT em ceder espaço nos estados, o que pode levar os diretórios estaduais peemedebistas a "encarecer seu passe" na convenção nacional da legenda, marcada para junho. A convenção terá o poder de aprovar ou não a reedição da aliança nacional entre PMDB e PT.