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A crise de credibilidade e o que o Brasil deve fazer para recuperá-la, por Murillo de Aragão

Ao terminar uma palestra em Nova York para investidores, ouvi a seguinte pérola: “O Brasil está virando uma Argentina, a Argentina está virando um Equador, o Equador está virando uma Bolívia, a Bolívia está virando uma Venezuela, e esta está virando um Zimbábue!”.
é claro que é um exagero completo. Até mesmo o autor da intervenção disse não acreditar que o Brasil vai virar uma Argentina. Porém – e existe sempre um porém –, o governo brasileiro trafega com imprudência no campo da credibilidade internacional. As razões são as seguintes e não seguem uma ordem de importância, mas todas contribuíram para nos desacreditar perante o mundo dos investidores financeiros:
As promessas de crescimento em 2012 e 2013 nunca se realizaram. As manobras na política fiscal nunca foram aceitas. As regras para a concessão de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias nunca foram adequadas e demorou para que fossem acertadas. O diálogo do governo com o mercado e a comunidade empresarial perdeu vitalidade e dinamismo.
Além da distância e da arrogância do governo, a curva do aprendizado opera muito lentamente diante de nossas necessidades e potencialidades. A gestão da Petrobras é percebida como trágica. A inoperância do governo em motivar investimento e oferta de produtos também é lembrada.
é evidente que há exagero em dizer que o Brasil está em uma situação tão delicada quanto algumas outras economias do mundo, em especial a Argentina, que tem menos de 10% de nossas reservas.
Nossa política fiscal ainda é melhor do que a da maioria das grandes economias. Nossas reservas são altas. Temos potencial para exportar e temos um dos mercados internos mais dinâmicos do mundo. Temos uma arrecadação tributária elevada e um dos sistemas bancários mais sólidos do planeta.
No entanto, por conta da inabilidade e da incompetência de nossas autoridades, e também pelos vícios de análise do mercado, temos uma crise de credibilidade. O que é um grave problema, apesar de o governo parecer não entender isso.
Como tais percepções nos afetam? E o que fazer para reverter as expectativas? Embora continue a existir um fluxo relevante de investimentos diretos para o país, o mercado financeiro reage mal ao desempenho da equipe econômica. O resultado é o aumento do custo de financiamento. Sem confiança, a taxa de risco é maior. Toda a cadeia de investimentos diretos e especulativos é afetada; e precisamos de ambos para fechar nossas contas e não ameaçar nossas reservas.
Outro fato é que o mercado opera com base em expectativas. Muitas crises terminam acontecendo a partir da percepção de que vai existir mesmo alguma crise. é o que chamam de “self-fulfilling prophecy”. Assim, simplesmente dizer que as percepções estão erradas ou não são precisas não é suficiente. Em especial, pelo fato de que se o Brasil não contar a sua história, o mercado o fará. E, como sabemos, as intenções nunca são as mais republicanas.
O que o Brasil deve fazer? Basicamente, investir na recuperação da credibilidade com atitudes claras e concretas. Recuperar a imagem da política fiscal fazendo – todo mês – o resultado prometido, sem receitas extras. Não promover maquiagens nem chicanas com o superávit primário nem com a inflação. Não controlar preços visando disfarçar a inflação e, sobretudo, investir pesado – como prioridade – para tornar o Brasil o melhor lugar do mundo para se investir e trabalhar.