O futuro do Lulismo em xeque
28 de junho de 2013
Percepção, realidade e 2014
28 de junho de 2013
Exibir tudo

Politização da economia

A antecipação do debate sucessório causou um fenômeno indesejável para as expectativas no Brasil: a politização da economia e a contaminação das questões econômicas no debate eleitoral.
 
O fenômeno decorre do fato de que não existe debate ideológico claro no Brasil, já que os dois grandes polos partidários do país – PT e PSDB – adotam visões de mundo parecidas, com origens no socialismo democrático e na social-democracia.
 
Em sendo assim, a disputa se dá nos campos onde possam existir diferenças marcantes: na economia e na conduta moral. O “mensalão” foi exaustivamente explorado, com pouca repercussão eleitoral. Já com a economia, é diferente.
 
A rigor, a economia é, por si só, o único fator previsível que pode derrotar o governo. Simples assim: se a economia for mal, o governo pode perder a eleição.
Que cenários se apresentam a partir dessa constatação? O primeiro se refere ao empenho do governo de fazer a economia funcionar e evitar que a inflação ameace ainda mais a popularidade da presidente Dilma Rousseff.
 
O segundo aspecto é que – funcionando a economia ou não – o populismo do governo deve aumentar, visando consolidar a base de apoio eleitoral nas classes mais populares.
O terceiro aspecto, ainda que improvável, trata da possibilidade de Lula vir a ser o candidato presidencial, visando ampliar as chances de o “lulismo” ganhar as eleições em 2014. O que alimenta esse imaginário é o fato de haver muitos setores insatisfeitos com o governo, em geral, e com a presidente, em particular.
 
Esses descontentamentos atingem, além da classe política, o setor empresarial, o mercado e os movimentos sociais. Criticam a tendência centralizadora da presidente, bem como sua pouca disposição de dialogar e de fazer concessões.
 
As três hipóteses se conectam entre si. Se a economia não funciona ou entra em parafuso, o populismo pode aumentar. Se a situação fica mais grave ainda, Lula pode ser o candidato. Antes, porém, de avaliar a viabilidade desses cenários, devemos ver o que o governo vai fazer para controlar a inflação e manter algum crescimento econômico este ano.
 
Persiste a sensação de que o Executivo está sem um roteiro claro. Enquanto o BC sinaliza que vai usar a taxa de juros para evitar que a inflação suba, os sinais das demais autoridades econômicas não são tão claros.
 
Aparentemente, o Planalto confia nos investimentos em infraestrutura para aquecer a economia. No entanto, o meio empresarial perdeu a confiança no governo e na sua capacidade de administrar expectativas.
 
Ainda existe tempo para o governo se recuperar e voltar a controlar suas expectativas. Basta se organizar e construir uma agenda positiva, com iniciativas que atendam as aspirações dos vários públicos.
 
Devem existir mensagens para o mercado financeiro que consolidem o compromisso de controlar a inflação e de manter a austeridade fiscal. Devem existir mensagens e iniciativas para as classes populares no sentido de que os ganhos de renda e emprego possam ser preservados.
 
Considerando que o governo se mostra instável em termos de competência política e gerencial, os desafios que se apresentam vão demandar mais qualidade na ação governamental.
 
Para tal, a substituição de alguns ministros deveria ser seriamente considerada. Tanto na área econômica quanto na equipe palaciana; tanto para injetar maior dinamismo ao governo quanto para estabilizar as relações com os aliados e a base política no Congresso.
 
Apesar dos percalços, o governo continua favorito para a eleição presidencial. Principalmente pelo fato de – mesmo com dificuldades nas cenas econômica e política – ainda ter condições de controlar as agendas, as iniciativas e os recursos que podem consolidar este favoritismo.