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O futuro do Lulismo em xeque

O governo tem nas mãos o seu maior desafio desde a turbulência vivida nas eleições presidenciais de 2002. Na verdade, são três os desafios que se apresentam e transformam as próximas semanas em decisivas para o futuro da gestão Dilma Rousseff e, até mesmo, para a sua reeleição em 2014.
 
Aparentemente, apesar da evidente preocupação, o governo não demonstra poder de reação para enfrentar esses três desafios que, sintetizando, são: recuperar o diálogo social, estabelecer o diálogo político e recuperar a credibilidade econômica.
 
No campo social, o Planalto se descuidou de suas relações com a sociedade. A qualidade e a intensidade do diálogo decresceram e geraram cisões e dissidências. Um exemplo é a Força Sindical, que se afastou da base social de apoio ao governo.
 
A falta de atenção às articulações do Movimento Passe Livre (MPL) também demonstra afastamento das mobilizações sociais, justamente um dos pontos que fizeram alavancar a carreira política de Lula. 

O episódio envolvendo o MPL, que deu origem aos protestos, também mostra uma dificuldade do governo em lidar com os chamados movimentos sociais não institucionalizados, que ganharam força a partir da emergência das redes sociais no debate político. Por outro lado, revela um distanciamento das classes médias dos grandes centros urbanos em relação ao Lulismo.
 
Mesmo tendo o Conselhão – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social –, com ampla representatividade de movimentos empresariais, de trabalhadores e de outros setores, o governo não o utiliza adequadamente nem valoriza o seu potencial de articulação com a base da sociedade.
 
As reclamações de falta de diálogo nas deliberações referentes às concessões de rodovias e ferrovias, à renovação das concessões das usinas de energia, e ainda ao debate sobre a legislação portuária comprovam a pouca disposição o para o diálogo por parte do governo.
 
No âmbito político, as críticas são antigas e já foram exaustivamente analisadas por mim em diversas ocasiões. O governo vive o dilema de ter que precisar do apoio político de pessoas e grupos com os quais não se identifica. Então trata mal, dialoga pouco e, muitas vezes, não cumpre o básico em uma coalizão. O ministério foi montado de forma adequada. Há uma desproporção na distribuição de cargos por partidos. O processo de deliberação do Executivo tende a ser autoritário em relação ao Congresso, entre outras mazelas.
 
O terceiro desafio é a vertiginosa perda de credibilidade econômica. Agora não apenas por conta de percepções – as notícias acerca do déficit em conta corrente ameaçam de verdade nossa solidez em termos de reservas. A inflação teima em fugir do centro da meta. A geração de emprego está se reduzindo e o crescimento econômico teima em não vir.
 
Nessas circunstâncias, é preciso agir com firmeza em múltiplas frentes e deixar de lado o isolamento e a paralisia. é preciso substituir peças que afetam a credibilidade econômica restante. E se comunicar mais e melhor.
 
Dilma, por si, tem amplas condições de manter a condição de favorita nas eleições presidenciais de 2014. Até mesmo pelo fato de que os candidatos de oposição não empolgam (Aécio Neves e Eduardo Campos). Ou não tem estrutura (Marina Silva).
 
Mas o cenário pode mudar rapidamente. As manifestações mostraram, pelo menos, que existe um Brasil que verbaliza insatisfação e que pode se mobilizar eleitoralmente a partir das redes sociais.
 
Tanto a multiplicidade dos desafios quanto a sua complexidade e o evidente gap em relação às competências necessárias para enfrentá-los agregam sérias incertezas ao horizonte eleitoral e político de 2014.