Blog do Noblat – 17/09/2015
O pacote de ajuste fiscal das 16 medidas, anunciado na segunda-feira pelo governo, revela que Dilma Rousseff beijou, tardiamente, a cruz da ortodoxia fiscal. Se a conversão tivesse ocorrido há uma semana, quem sabe o país houvesse alcançado a graça de evitar o rebaixamento de crédito.
Agora, a preocupação passou a ser outra: evitar nova desclassificação, o que empurraria o Brasil para um constrangimento de suas finanças públicas próximo do fundo do poço. Eis uma boa oportunidade para aprender a lição número um da boa gestão anti-risco. Para operar no mercado, é preciso sentido de urgência, uma funcionalidade que este governo parece haver desativado.
A trinca de economistas do Planalto – Dilma, Barbosa e Mercadante – encurralou Levy vendendo a ideia Tabajara de que, ao propor ao Congresso um orçamento deficitário, “todas os seus problemas acabariam”. A verdade é que não se pode agredir o bom senso. Sincericídio não funciona. Sincericídio fiscal, então, além de não funcionar, é tirar o fracasso para dançar.
Segundo a teoria formulada no laboratório dos três economistas do Planalto, o grau de investimento era apenas um dos índices com o qual se mede a qualidade do crédito de um país. E não “o” índice, logo, não tinha essa importância toda que que certos fanáticos pelo mercado lhe atribuem.
O espetacular de tudo é que, na noite do rebaixamento, Nelson Barbosa disparou emails para sua lista de interlocutores exibindo o rating das eras FHC e Lula para justificar seu relativo desdém.
O terremoto no mercado fez o governo acordar. Atordoada, a trinca de economistas convocou o engenheiro naval Levy para tirar o barco do rumo das pedras. E, como sempre, o governo se esmera em escolhas e timings inadequados.
O pacote apresentado tem o defeito mortal de pesar mais a mão no contribuinte e menos no governo. Vem ao mundo sem a adequada coordenação política, imprescindível para viabilizá-lo.
Sua narrativa é cansada. Faltam avanços em outras áreas. Falta modernidade, abertura da economia. Falta, enfim, solução para os setores atingidos pela Lava Jato. Para aprová-lo, Dilma terá que juntar os cacos da base política, pagar mais caro, correr da sala para a cozinha. Para tanto, como Lula mesmo já disse, sem o PMDB não vai dar certo. E não há garantia de que dê certo com o PMDB.