Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vetar a criação do Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva vinha tentando oficializar para concorrer à Presidência da República em 2014, uma dúvida foi lançada sobre o tabuleiro político da sucessão: qual seria o destino de Marina?
A falta de um “plano B” por parte da ex-senadora provocou uma divisão interna entre seus aliados no Rede, fato que levou Marina Silva, na última sexta-feira (04), a adiar a decisão de seu futuro político. O clima interno no Rede era tão ruim que Marina chegou a ser acusada pelo deputado federal Alfredo Sirkis, seu aliado, de fazer um processo decisório “caótico”.
A inexistência de uma alternativa por parte de Marina Silva levou os deputados federais Domingos Dutra (MA) e Miro Teixeira (RJ), até então acertados com a ex-senadora, a migrar, respectivamente, para os recém-criados Solidariedade e PROS.
A grande dúvida de Marina era: ser ou não ser candidata a presidente e por qual partido? A ex-senadora vivia um dilema, pois os partidos políticos disponíveis ou eram pequenos demais (PEN, PTN, PHS), identificados com os governos do PT (PDT e PTB), ou oposicionistas demais (caso do PPS).
Porém, na madrugada de sábado, quase no limite do prazo para a definição, Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), deram uma aula de articulação política. Marina acertou a filiação ao PSB. Durante a entrevista coletiva para anunciar sua filiação, ficou claro que, hoje, o candidato do PSB ao Planalto em 2014 será Eduardo Campos. A ex-senadora poderá, contudo, ser vice.
A opção de Marina Silva pelo PSB foi uma grande surpresa e provocará uma mudança significativa no tabuleiro da sucessão do próximo ano. A união entre Marina e Eduardo Campos materializa, pela primeira vez desde 1994, a constituição de uma aliança com potencial para quebrar a polarização existente na política brasileira entre PT e PSDB.
Vale destacar que na última pesquisa divulgada pelo Ibope, Marina tinha 16% das intenções de voto e Eduardo Campos aparecia com 4%. Juntos, eles totalizam 20% das intenções de voto. Somam-se a isso os 15% de eleitores indecisos, que ainda podem ser atraídos pela nova coligação – se considerarmos a pesquisa espontânea, os eleitores indecisos somam 45%.
Inicialmente, a chapa Eduardo Campos e Marina Silva representa uma forte ameaça para Aécio Neves (PSDB), que corre o risco de ficar de fora em um eventual segundo turno. No entanto, a união PSB-Rede também preocupa Dilma Rousseff (PT), pois um segundo turno da presidente com Eduardo Campos (PSB) seria complicado.
Em entrevista recente, o próprio ex-presidente Lula reconheceu que Campos seria um adversário de peso. Além de Campos ter uma relação histórica com o PT e com Lula, tem potencial para atrair a totalidade do eleitorado do PSDB numa disputa contra Dilma.
Marina Silva conseguiu, numa grande jogada estratégica em parceria com Eduardo Campos, transformar a desgastante derrota do Rede no TSE numa vitória política, ao colocar-se novamente como protagonista.
Vale lembrar que em seu discurso de filiação ao PSB, ela fez questão de frisar que o Rede é, sim, um partido político, por ter cumprido todos os requisitos para a criação da legenda, com exceção do número de assinaturas necessário para viabilizar a sigla. A ex-senadora falou em aliança programática e caracterizou o ingresso no PSB como uma filiação simbólica, com o objetivo de não perder a referência política do Rede, que muito provavelmente será utilizado na campanha do próximo ano. Não por acaso a aproximação entre Eduardo Campos e Marina Silva é chamada de aliança PSB-Rede.
A composição é muito positiva para Eduardo Campos. Visto como o “novo” na disputa, o governador de Pernambuco pode atrair os eleitores “antipolítica” que foram às ruas no final de junho e que se identificam com Marina. Afora isso, a ex-senadora será um importante cabo eleitoral nos grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, onde Campos é politicamente mais fraco em comparação ao Nordeste.
é importante lembrar que no primeiro turno da última eleição presidencial, em 2010, quando teve 20% das intenções de voto, Marina Silva obteve cerca de 1/3 votos ou mais em 12 capitais, tendo vencido a eleição em Brasília, Belo Horizonte e Vitória.
Além de Marina, Campos também contará com importantes lideranças políticas a seu lado, como os deputados federais Alfredo Sirkis e Walter Feldman, que se filiaram juntamente com a ex-senadora ao PSB. Além da também deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE). Sem mencionar a possibilidade de atrair potenciais aliados de Aécio Neves e do PSDB (o PPS) e também de Dilma Rousseff e do PT (PTB, PDT, PSD e PP).
Apesar de Eduardo Campos e Marina Silva não confirmarem que a ex-senadora será a candidata a vice-presidente do governador de Pernambuco, a tendência é que a chapa seja composta por ambos. Mesmo sendo uma aliança expressiva, ela possui desafios pela frente.
Como agora pertencem ao mesmo partido, existe a necessidade de atrair novas legendas para a composição, com o objetivo de garantir tempo de TV e estrutura partidária à chapa que demonstra potencial para ameaçar a polarização entre petistas e tucanos na política nacional.