Por Murillo de Aragão
Publicado no Blog do Noblat – 26/05/2016
Desde os anos 80 venho a Portugal. Nos anos 90, por conta de uma promessa, as viagens tornaram-se anuais. Ainda que fossem pontuais e específicas, não pude deixar de ver as transformações ocorridas no país.
Em outro plano, Portugal vive no meu íntimo devido à minha antiga preferência por Eça de Queirós, o maior escritor de nossa língua. Talvez resista dentro de mim um pouco da nostalgia portuguesa. Uma nostalgia de tempos que não vivi.
Agora, neste exato momento, escrevo este artigo/crônica no Parque da Exposição de 1998. Aqui, uma arquitetura futurista está assentada sobre uma imensa calçada composta por tradicionais pedras portuguesas.
Centenas de estudantes e de turistas caminham para ver o espetáculo do Oceanário, onde o novo e o antigo se encontram.
Portugal é um enigma para a imensa maioria dos brasileiros, os quais, por desinformação e preconceito, não se interessam em desvendar. Ainda bem que alguns que conheço veem de outra maneira. Como diz José Múcio, Lisboa é Lisótima!
Por isso discordo sempre quando alguns desavisados atribuem nossos infortúnios à colonização portuguesa. Temos é que agradecer, pois os portugueses nos legaram um imenso país com ampla diversidade. Um fado tropical
Um país tão pequeno legou ao mundo uma nova pátria onde, a cada centímetro, há um pouco de Portugal. Ruy Guerra e Chico Buarque disseram: “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/ Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”.
Ao viajar pelas pequenas estradas de Portugal, me imagino um Jacinto de Thormes, personagem de Eça, reencontrando o que nunca vivi. Sem saudades do progresso tecnológico, na expectativa da felicidade na simplicidade da terra simples.
Já n’outro tempo, vejo o arrojo das formas futuristas do Oceanário. O paradoxo entre o novo e o antigo em Portugal se debate para o adiante. Sinto-me, de forma diferente mas parecida, o outro Jacinto dos tempos de Paris. Como o homem duplicado de Saramago: igual, mas diferentemente igual. Enigma a ser decifrado tal qual o caos de nossas dúvidas.