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Uruguai usa Mercosul para se impor

O anúncio feito hoje pelo Governo do Uruguai, criticando as instituições do Mercosul, é mais uma cartada no conflito com a Argentina do que uma censura real ao bloco regional. O Governo uruguaio já recorreu à Organização dos Estados Americanos e à Organização Mundial de Comércio para tentar apressar a solução para a disputa.


 


É verdade que, junto com o Governo do Paraguai, Tabaré Vasquez tem feito críticas à estrutura do Mercosul, principalmente à falta de medidas para acelerar a diminuição das assimetrias econômicas dentro do bloco, mas a verdadeira motivação por trás do pronunciamento é a necessidade uruguaia de pressionar o Governo argentino em busca de uma resolução para o conflito envolvendo a construção de fábricas de celulose na fronteira entre os dois países.


 


No âmbito do Mercosul, no início do conflito, a administração de Tabaré Vasquez se ressentiu com a negativa do Presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, de intermediar a contenda, e desde então tem tomado diversas medidas para tentar envolver o bloco e o Brasil na disputa.


 


Em represália à política de distanciamento do tema adotada pelo Presidente Lula, o Uruguai chegou a rejeitar, inicialmente, uma petição do Governo brasileiro para adiar a reunião semestral da Cúpula do Mercosul prevista para meados de dezembro, que posteriormente foi confirmada para o dia 18 de janeiro, em Brasília.


 


Em setembro, o Tribunal do Mercosul julgou que os bloqueios fronteiriços realizados pelos argentinos eram ilegais porque violavam o Tratado de Assunção, que garante o livre trânsito de pessoas e bens entre os sócios.


No fim de outubro, o governo uruguaio pediu formalmente à presidência Pro-Tempore do Mercosul, exercida pelo Brasil, que o conflito fosse incorporado na pauta da próxima reunião da Cúpula do bloco. O Governo uruguaio já havia tentado, sem êxito, incluir o tema na agenda oficial de outras reuniões da organização regional.


 


Em meados de novembro, o Governo Uruguaio chegou a pedir que fundos do Mercosul, aportados em sua maioria pelo Brasil e pela Argentina, fossem destinados ao recondicionamento de uma rodovia que será utilizada para o transporte de madeira pelas plantas de celulose das empresas Botnia e ENCE. Como no Mercosul as resoluções são aprovadas por consenso, sempre esteve claro que Váquez estava usando o bloco para atacar o Governo argentino, que jamais votaria a favor da proposta.


 


Quando o tema prioritário do Uruguai era realmente a estrutura do Mercosul, Vasquez chegou a flertar com os EUA e ameaçou firmar um Tratado de Livre Comércio com os norte-americanos, o que serviu de alerta para os sócios mais influentes do bloco, levando o Brasil a anunciar por diversas vezes, desde então, que o Governo Lula dará a assistência necessária aos membros mais desprovidos do bloco.


 


A decisão de Montevidéu de interromper as negociações para um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA há alguns meses, e a dificuldade que a Colômbia e o Peru estão encontrando para ratificar os TLCs que já foram firmados com os norte-americanos, demonstra que a curto prazo retirar-se do Mercosul não é uma opção muito tentadora para o Uruguai.


 


Por outro lado, a vitória recente com a aprovação dos financiamentos do Banco Mundial para a construção da fábrica da empresa de celulose finlandesa Botnia, reafirmaram a convicção uruguaia de que o país tem argumentos suficientemente fortes para vencer a disputa com a Argentina e quem sabe se estabelecerem como uma potência na produção de papel na região. Para tanto, o Governo Vasquez está disposto a usar de todas as armas disponíveis e, pressionar o Mercosul é dentre elas uma das mais viáveis.