O recém-eleito governo Bolsonaro trata-se de um governo com a chancela de origem e de propósitos da Operação Lava Jato. É, de forma simples e direta, um governo Lava Jato. A origem do governo de Jair Bolsonaro (PSL) está na destruição de parte expressiva do establishment político pelas investigações da Lava Jato. Sem essa destruição, o establishment político teria sobrevivido e eleito um candidato comprometido com essa política. Não importa de que partido.
A presença da operação na cena institucional vai além da consequência de destruir o mundo político. Revela-se sobretudo no estímulo à renovação que o eleitorado apresentou nas últimas eleições. Sem as investigações, boa parte da cidadania não teria acordado para empurrar Dilma Rousseff (PT) para o impeachment. Tampouco teria se mobilizado para provocar uma renovação importante no Congresso e nos governos estaduais.
O processo eleitoral decorreu do ambiente proporcionado pela Lava Jato, que estimulou o Supremo Tribunal Federal a proibir o financiamento de campanha por pessoa jurídica e o Congresso a diversificar o teto de gastos por candidatura. Por isso tivemos campanhas paupérrimas se comparadas às anteriores. Foi uma campanha curta na sequência de uma pré-campanha longa que apenas Bolsonaro soube utilizar a seu favor.
A influência da operação se materializa de forma inconteste quando o então juiz Sérgio Moro, à frente da Lava Jato na primeira instância, aceita o convite para comandar o Ministério da Justiça e abandona a magistratura. Não só comandar como levar toda a ideologia da Lava Jato para a sua gestão. Não há sinal maior de influência da operação no novo governo do que sua presença no comando do super Ministério da Justiça.
Afinal, nada escapará da influência e, eventualmente, do escrutínio da cultura da Lava Jato nas ações do governo Bolsonaro. A presença de Moro se configura como a de um ícone dos novos costumes políticos, servindo de baliza para o governo que se inicia em janeiro, além de ser um profundo incomodo para a velha guarda da política nacional.
Assim, de um lado, a coalizão Bolsonaro-Moro dá enorme credibilidade à nova gestão. De outro, traz imensa responsabilidade, em especial, no combate à criminalidade e à corrupção. O fracasso na redução dos índices de criminalidade será trágico para o governo. O setor de segurança pública, como indica a presença de Moro à sua frente, será prioridade. Em sendo prioridade, suas expressões deverão surgir de forma clara e inquestionável perante a sociedade. Menos em palavras e mais em atitudes.
Um governo com a chancela da Lava Jato terá de se pautar — necessariamente — por um comportamento ético irrepreensível e resultados claros. Para setores do mundo político acostumados a certas leniências, o espectro da Lava Jato funciona como um alerta de que os esquemas de outrora não serão mais tolerados. É uma mudança profunda nos costumes políticos do país.