São Paulo, 30 (Broadcast, Agência Estado) – O cientista político Murilo de Aragão, analista sênior da Arko Advice Análise Política, avalia que o discurso conciliador adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a reeleição,
tentando se aproximar da oposição, tem por objetivo construir pontes para a aprovação no Congresso da Continuidade da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU), mais do que imaginar a construção de uma agenda mínima de reformas.
“O presidente Lula precisa da oposição para aprovar a continuidade da CPMF e da DRU e sabe que, se radicalizar, os partidos de oposição podem fazer alguma sacanagem contra ele”, disse Aragão à Agência Estado. “A questão das reformas ficará para
outro momento e a reforma política tem um apelo próprio, sem nada a ver com o discurso atual.”
Para ele, nem mesmo a oferta pelo governo da extensão da DRU aos Estados, a chamada Desvinculação de Receitas Estaduais (DRE), que vem sendo negociada dentro do Congresso, será suficiente para mobilizar a oposição para aprovar o projeto de interesse do governo.
“O Executivo terá que oferecer mais (à oposição). A DRE ajuda a minimizar o impacto de decisão mandatária, mas ainda há aperto de receita. Para os Estados, não adianta ter desvinculação se não tem receita disponível”, explicou.
Aragão também enxerga no comportamento do presidente, ao buscar aproximação com a oposição, ações típicas de vencedores nos pleitos eleitorais, tentando se mostrar “magnânimo, benevolente, amistoso e com discurso de quem governa para todos os brasileiros”. “Lula se inspira muito no presidente Getúlio Vargas e essa atitude faz parte de uma imagem de estadista que ele faz de si próprio”, observou.
Por precaução, entende o especialista, o presidente tenta também abrir diálogo com a oposição para torná-la menos ofensiva, já que Lula ainda possui “telhado de vidro”. “A exposição traz certa preocupação. Há o problema do superfaturamento da cartilha, do episódio do dossiê e a denúncia da quadrilha do mensalão pelo procurador-geral da República. Tudo para acontecer no segundo mandato e, ao dialogar, tenta pelo menos minimizar o tom dos oposicionistas”, analisou. (Jander Ramon)