Está ocorrendo uma espécie de operação tartaruga no espaço aéreo nacional. Aviões estão sendo atrasados de forma inapelável. Desde o início da semana passada. Na segunda-feira passada, em Brasília, a justificativa para um atraso de mais de uma hora é a exibição de aviões por conta do centenário do vôo do 14 bis. As autoridades justificam os atrasos dizendo que o volume de vôos no território nacional aumenta 14% ao ano. É verdade. Tudo verdade.
No entanto, o trágico acidente com o avião da Gol e suas circunstâncias inexplicáveis, colocaram o controle aéreo sob pressão. Até hoje a não foi dada uma explicação plausível para o ocorrido. Mesmo jogando a culpa no Legacy, por que o Boeing 737-800 não desviou do avião executivo? O que ocorreu de verdade? Existem mistérios cujas responsabilidades podem recair sobre todos os envolvidos.
Enfim, o episódio gerou uma reação corporativista que desemboca nesta espécie de operação tartaruga. Aparentemente, com o súbito cumprimento de procedimentos com um rigor que antes não era praticado. Daí os atrasos.
O fato é que o controle aéreo brasileiro é, normalmente, eficiente. Porém, não é tratado com o respeito que merece. Enquanto gastam fortunas em compras superfaturadas nas reformas dos aeroportos, os controladores ganham pouco e têm uma exaustiva carga de trabalho. E, ainda, são submetidos ao regime da dupla lealdade: seguir os procedimentos e as ordens de superiores. Por serem militares, a situação é complicada. Como é que um soldado pode dizer não a um coronel por conta das normas? Foi o que o presidente da entidade dos controladores disse, cheio de dedos, na televisão.