Istoé – 23/09/2016
Murillo de Aragão
Desde 2013, o Brasil vive um processo de mudança na forma como a sociedade participa do debate político. As manifestações de 2013 mostraram um potencial represado de insatisfação que ultrapassava a agenda do aumento das passagens de ônibus. Os estratos mais informados queriam mais e melhor das autoridades.
No processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, novamente as ruas fizeram a diferença e colocaram o governo no corner. Sem as ruas, Dilma jamais teria sofrido o impeachment, mesmo que todos os motivos para isso existissem de forma multiplicada. Com as manifestações contra o governo, a base política simplesmente derreteu.
Na cassação do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, novamente a força da opinião pública se fez presente. Mesmo tendo uma base de aliados significativa, Cunha foi abandonado à própria sorte por conta da pressão da sociedade.
A sociedade está claramente divorciada da política. Nem por isso deixa de promover intervenções importantes, como o apoio à Lei da Ficha Limpa, ao fim das doações empresariais em campanhas, ao processo de impeachment e à cassação de Cunha. Fica a lição de que o poder da opinião pública não pode ser desprezado e deve ser entendido em suas expectativas e motivações.
Para fazer as reformas estruturais, o governo precisará da opinião pública. Daí a questão das reformas estruturais do país necessitar de ampla comunicação. Entendendo as razões de se reformar a estrutura dos gastos públicos e a previdência, a população as apoiará e o Congresso não deixará de aprová-las. Sem o apoio da opinião pública pouco irá acontecer.
A política tenderá a ser mais clara e transparente. Onde a verdade dos fatos deve ser colocada diretamente. Não caberá subterfúgios para proteger arranjos políticos duvidosos. A sociedade mudou e a política terá que mudar também.
O governo Temer pode ser a última chance para os políticos tradicionais se manterem no jogo com chances em 2018. Sob pena de serem arrasados eleitoralmente nas próximas eleições.
Portanto, além do engajamento nas reformas de natureza fiscal, o governo deve mover sua base política para a reforma do sistema partidário e eleitoral. Uma eventual decepção poderá ser fatal para os políticos tradicionais.