Teste Raphael
25 de janeiro de 2007
A imprensa e o clima político
26 de janeiro de 2007
Exibir tudo

Roda Doha em Davos

Os mais otimistas esperam que a reunião ministerial de negociadores-chave da Rodada Doha, a se realizar no próximo sábado na cidade suíça de Davos, às margens do Fórum Econômico Mundial, consiga, finalmente, destravar as conversações para a liberalização comercial mundial. Apesar de toda a retórica favorável que prevaleceu desde sua paralisação em julho de 2006, e das repetidas juras de comprometimento das partes envolvidas, os resultados do encontro do dia 27 ainda são incertos.


Quando se reunirem os negociadores de 25 ou 30 países envolvidos na Rodada, velhas dinâmicas e distanciamentos deverão voltar a manifestar-se, desenhando um quadro em que, na melhor das hipóteses, será possível apenas ao que tudo indica acertar um calendário para uma retomada séria das negociações.


Com um novo calendário em mãos, aceito pelos responsáveis políticos pelo andamento da Rodada, seria possível cogitar o resgate dos trabalhos técnicos para a aproximação das posições, dando algum alento aos compromissos firmados no Catar, em 2001, e delineados em Hong Kong, em 2005.


Dois problemas aqui, no entanto. Primeiramente, é necessário considerar que, para que os avanços em Doha sejam concretizados ainda em 2007, será necessário aprovar o acordo geral até junho, haja vista o término do fast track norte-americano no meio do ano e seu impacto sobre a capacidade negociadora deste ator-chave. Nesse contexto, qualquer acordo criado nos próximos meses tenderia a ater-se a pontos mínimos de consenso, reduzindo conquistas e frustrando expectativas. Por outro lado, a não assinatura de um acordo até essa data jogará para 2009, na melhor das hipóteses, a retomada das tratativas comerciais globais.


O segundo ponto a se considerar remete à própria paralisação e suas razões. Para além das dificuldades inerentes a todo processo de negociação comercial, parecem contribuir para o estancamento da Rodada o jogo de empurra que se tornou a necessidade de novas concessões (em especial, as cobranças recíprocas entre Estados Unidos e União Européia na área agrícola) e a percepção reinante de que promessas de concessões podem limitar a margem de manobra futura, ocasionando crescente timidez de ofertas.


A importância da retomada das negociações comercias globais é indiscutível, assim como também o é a privilegiada posição de Davos na construção de uma agenda positiva para a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. A persistente paralisia, contudo, sugere cautela e moderação quanto aos desdobramentos possíveis do encontro suíço e o futuro da Rodada Doha e da liberalização comercial concertada a nível global. Caberá ao ministro Celso Amorim e a seus pares envolvidos no encontro do próximo sábado mostrar que um desfecho positivo ainda é possível para a Rodada do Desenvolvimento.