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Representantes, representados e mídias sociais: mapeando o mecanismo de agendamento informacional

Por se tratar de um movimento recentíssimo na linha da história, os estudos sobre internet e política tem tomado robustez neste começo de século XXI. Especificamente sobre a absorção e uso dessa ferramenta pelo Poder Legislativo, que é o principal foco desta tese, Cristina Leston-Bandeira (2007) coloca que sabe-se ainda pouco como a internet impacta o parlamento (Tradução minha. LESTON-BANDEIRA, 2007:658), no entanto, que haveria tendência crescente desses tipos de pesquisa. O que se observa é que a importância dada ao parlamento nesse campo de estudos tem muito a ver com a convicção de que a internet poderia de fato permitir uma participação mais ampla e aprofundada de cidadãos na política (LESTON-BANDEIRA, 2007). A justificativa se enquadra no seguinte panorama interpretativo, o parlamento seria um dos caminhos que ligam os cidadãos à política, portanto faria sentido o estudo do impacto, das possibilidades e das mudanças que a internet pode trazer à essa conexão (entre representantes e representados). Especificamente a pesquisa aqui feita revela-se com um objetivo centralmente teórico com seu primeiro teste empírico. Assim é feita a reflexão sobre as possibilidades da internet no campo político legislativo. Para tanto, três teorias da ciência política foram basilares e se relacionaram de forma estreita permitindo que a teia argumentativa fosse construída: a teoria da delegação, a teoria informacional e a teoria do alarme de incêndio. As três teorias foram manipuladas de forma que primeiramente se fizesse uma reflexão sobre a realidade política brasileira e como se constrói nossa engenharia institucional. No momento posterior se apontou para a possibilidade de que essa engenharia institucional pudesse oferecer soluções para alguns específicos problemas vividos na representação brasileira, se for adequada à realidade digital. Dessa forma conjecturou-se que: se o Brasil já vive em uma realidade de um presidencialismo de coalizão onde o sistema de delegação (modelo mandante-agente) é necessário e se o legislativo brasileiro vive um problema de déficit informacional problemático, mas apesar disso instala pontos de alarme de incêndio para se manter a par das discussões nacionais e locais, será que essa construção institucional também poderia ser visualizada, em alguma medida, no âmbito da internet, já que o mundo real e o mundo virtual não são uma dicotomia e na verdade se mostram um continuum? De tal modo, o foco desta tese foi de fato pensar e discutir a existência de um mecanismo de agendamento por alarme de incêndio na internet. Teorizou-se que haveria possibilidade que em um alargamento do modelo de delegação brasileiro, em que poderia o parlamentar se tornar um mandante e o cidadão seu agente, numa perspectiva informacional e poderia esse cidadão, através de alarmes de incêndio na internet (especificamente na rede social Facebook), agendar o seu representante com debates, informações e opiniões, assim o munindo de novos conhecimentos e portanto diminuindo, em alguma medida, o déficit informacional vivido em seu mandato parlamentar. A tese é assim uma tentativa teórica de desenhar, pesquisar e entender o modelo de mecanismo de agendamento por alarme de incêndio na internet. O desenho da apresentação do trabalho foi cunhado de forma que o modelo teórico proposto fosse o foco da tese. Assim, poder-se-á perceber a centralidade do modelo teórico ao longo dos escritos, já que todo o texto gira em torno dele e em função dele. Para a amarração e justificação desse modelo uma extensa discussão estatística e qualitativa de dados primários e secundários foi feita. Sendo que o ápice da análise empírica poderá ser visto quando do estudo de caso sobre a Câmara dos Deputados brasileira, especificamente em sua 55ª Legislatura (2015 2018). Ali 23 se verá a análise dos dados coletados dos 513 deputados e também em profundidade a análise amostral de 20 desses deputados, em que foram analisadas 518 postagens e 11488 comentários.

Autor: Helga do Nascimento de Almeida
Fonte: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-AU3JRN