Após várias tentativas frustradas, a última em 2007, o governo encaminhou para o Congresso Nacional sete projetos sobre a Reforma Política. A polêmica continua e pode atrapalhar a votação de vários itens. Partidos menores, historicamente ligados ao presidente Lula, alegam que a proposta beneficiará apenas as grandes legendas. O líder do PSB na Câmara, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), fala com exclusividade ao Brasília em Tempo Real. Segundo ele, o governo sofrerá retaliação caso dê as costas para a esquerda.
O que acha do gesto do governo de encaminhar a reforma política para o Congresso?
Rodrigo Rollemberg: Primeiro temos que compreender a lógica dessa reforma. Não há nenhuma novidade nessas propostas enviadas ao Congresso. A lógica dela é de favorecer os grandes partidos em detrimento dos médios e pequenos. Isso funciona como se os partidos grandes tivessem utilizado uma escada para chegar ao patamar atual e depois jogaram a escada fora, impedindo assim que outros cheguem ao mesmo patamar.
O fato de a proposta ter sido encaminhada de forma fatiada ajuda ou atrapalha na votação?
Rollemberg: O governo a enviou fatia com o objetivo de favorecer sua aprovação, já que no passado ele não conseguiu aprová-la por causa de uma grande resistência dos partidos políticos. Eu acho que ajuda na aprovação, mas não contribui para uma reforma de boa qualidade. A Reforma Política não pode ser pensada isoladamente, para que não tenha distorções no processo democrático.
Considerando que qualquer mudança para 2010 tem que ser aprovada um ano antes do pleito, existe chance do projeto ser aprovado a tempo de valer nas próximas eleições?
Rollemberg: Há tempo suficiente para aprovar determinados itens. Mas o grande objetivo dessa reforma é abrir espaço para que parlamentares possam trocar de partido. Em função da fidelidade partidária, hoje existe um quadro engessado. Agora, outras questões sofrerão resistência maior, como a cláusula de barreira, o fim das coligações e o voto em lista. A proposta de lista fechada é um retrocesso.
A resistência dos pequenos partidos, como o PSB, PDT e PCdoB, é suficiente para evitar tal reforma ou ela depende apenas de entendimento entre as grandes legendas?
Rollemberg: Eu acredito que sim. Não é uma questão meramente eleitoral. Tem uma questão ética envolvida nessa questão. Por exemplo, acabar com o fim das coligações e reduzir o pluralismo da política brasileira são atos que certamente serão cobrados dos grandes partidos. Nós (PSB, PDT e PCdoB) queremos saber, em função desse movimento de relação com a direita, de aproximação com o PMDB, se o governo manterá sua postura histórica, respeitando a posição de aliados históricos da esquerda, ou se ele vai consolidar essa aliança com a direita. Claro que se o governo insistir nisso, ele sofrerá consequências políticas.
A reforma política está novamente em foco, depois da fracassada tentativa (em 2007) em dar prosseguimento à proposta aprovada há mais de dez anos pelo Senado. O senhor acredita que dessa vez ela vai decolar?
Rollemberg: A tendência é de passar a janela partidária, cláusula de barreira para um por cento, agora as outras questões são mais complicadas.