A crise política, que tem causado grande enfraquecimento à liderança da presidente Dilma Rousseff (PT), está provocando desdobramentos importantes no sistema político e levando a movimentações que podem desaguar num realinhamento partidário.
O protagonista desse novo momento é o PMDB, que, por meio do comando do Congresso, assumiu o controle da agenda e está ditando os rumos do governo. É o partido que melhor tem tirado proveito da atual conjuntura. Sua força é tão grande que, mesmo faltando quase um mandato presidencial inteiro para o governo Dilma, alguns de seus líderes, sobretudo no Rio de Janeiro, já falam abertamente em candidatura própria ao Planalto em 2018.
Nesse cenário, o PMDB consolida sua posição de grande partido de centro no espectro político. Como consequência, as legendas médias iniciam o que se pode chamar de realinhamento partidário. DEM e PTB estão numa negociação adiantada visando possível fusão. Há ainda a possibilidade de o DEM fundir-se com o PMDB ou o PSDB, caso a fusão com o PTB não prospere.
A eventual união do DEM com o PTB daria fôlego para um partido à direita, de perfil mais conservador. Já uma fusão entre o DEM e o PSDB daria aos tucanos um perfil mais de centro-direita. Se o destino do DEM for se juntar ao PMDB, a direita ficaria praticamente inexistente (contando apenas com o PP, fortemente abalado pelo escândalo do petrolão). Por outro lado, o centro político ficaria ainda mais forte.
Quem se movimenta bem nesse chamado realinhamento é o PSD, partido de Gilberto Kassab, ministro das Cidades. Ele é o principal articulador da recriação do PL. A ideia é, após a recriação do PL, fundi-lo com o PSD, formando, assim, um grande partido de centro para rivalizar com o PMDB.
Outro casamento que também pode ocorrer é entre PSB e PPS. Aliás, a migração da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para o PSB atende ao objetivo de tentar ocupar um espaço no campo da centro-esquerda, que está vago devido ao desgaste do PT e à inexistência de um grande líder nacional desde a morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE).
Embora a ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) seja uma liderança de peso, está desgastada por conta das duas derrotas consecutivas (2010 e 2014) em eleições presidenciais. Além disso, seu futuro é uma incógnita. No PSB, a ex-senadora não é uma unanimidade. Marina pretende oficializar a Rede Sustentabilidade em abril, prazo que considera limite para que a legenda dispute as eleições de 2016 e 2018. Caso o Rede seja criado, teremos mais um partido tentando disputar com o PSB ou o PSB-PPS o espaço da centro-esquerda.
Outra legenda que pode almejar a disputa desse espaço é o PROS, por intermédio do ex-governador e ex-ministro Cid Gomes (CE). Também de centro-esquerda, o PDT pode compor com o PSB e/ou o PROS.
Com tantas indefinições, o sistema político atual continua polarizado entre PT e PSDB. No entanto, ambos os partidos têm seus dilemas. No PSDB, embora Aécio Neves seja o líder da oposição, Geraldo Alckmin e José Serra não podem ser excluídos do tabuleiro de 2018.
Já no PT, a crise atual pode inviabilizar uma nova candidatura do ex-presidente Lula em 2018. Aloizio Mercadante, que estava trabalhando em favor de seu nome, está enfraquecido. Assim, pode restar aos petistas apostar numa nova liderança, como Jaques Wagner, Fernando Pimentel, Tarso Genro ou até mesmo Fernando Haddad.