Depois de um mês de quase paralisia, decorrente da realização do segundo turno da eleição presidencial e do engajamento do ministro Celso Amorim (e de outros importantes membros do governo e da cúpula das relações exteriores) na campanha do presidente Lula , a política exterior do Brasil deverá retomar seu ritmo normal nas próximas semanas.
Para além da redução da agenda mais substantiva envolvendo a cúpula do ministério das relações exteriores e a negociações de acordos internacionais com o País, entre os principais sinais de paralisia pode-se citar a postergação de procedimentos importantes na condução da diplomacia brasileira como o recebimento de credenciais de embaixadores estrangeiros no Brasil e o envio de diplomatas brasileiros designados para postos no exterior.
Entre os diplomatas estrangeiros que ainda não conseguiram entregar suas credenciais ao presidente Lula, haja vista a impossibilidade de conciliar a agenda do presidente-candidato com os compromissos diplomáticos, encontra-se, por exemplo, o embaixador norte-americano, Clifford Sobel. Do lado dos brasileiros retidos em território nacional encontram-se os recém nomeados embaixadores brasileiros na Bolívia, César de Araújo, e na Agência Internacional de Energia Atômica, José Valim Guerreiro, para citar dois cuja remoção atenderia a critérios unânimes de urgência e relevância.
A retomada, no entanto, não deverá ser simples. Ao contrário da habitual placidez que, aparentemente, emana do Itamaraty, a campanha eleitoral registrou um excepcional acirramento de ânimos internamente ao ministério em Brasília. Contornar as divisões político-partidárias internas e reestruturar o compromisso em torno da condução pragmática da política exterior brasileira exigirão certa habilidade da cúpula do ministério e por parte do governo.
Há sinais de que, na montagem da delicada engenharia da diplomacia brasileira para o segundo mandato do presidente Lula, não está descartada a reorientação das linhas gerais da política exterior do País, que envolveria um eventual remanejamento de alguns postos-chave, entre eles o de secretário-geral do ministério, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, e o do assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.
Contribuiriam para as modificações a percepção de esgotamento do modelo adotado até o momento em especial, na América do Sul, onde a influência de Guimarães e Garcia pareceu ser mais importante nos últimos anos e a crescente resistência ao modelo gerencial adotado pelo secretário-geral na condução dos assuntos internos do Itamaraty. Nesse contexto, Guimarães poderia ser removido para a Argentina e Garcia para outro posto no governo ou para alguma embaixada no exterior (possivelmente, Paris).