As privatizações, tema que ocupou parte importante do debate político na década de 90, voltaram a ser discutidas por PT e PSDB, após a presidente Dilma Rousseff lançar a primeira etapa de um novo pacote de concessões para incentivar investimentos na infraestrutura do país. Essa primeira fase do chamado Programa de Investimentos em Logística prevê a aplicação de R$ 133 bilhões na reforma e construção de rodovias federais e ferrovias. Nas próximas semanas, serão anunciadas medidas para o setor de portos e aeroportos.
Na interpretação dos tucanos, Dilma adotou um modelo defendido por eles, ao reduzir o tamanho do Estado para aumentar a capacidade de investimento. Mas o argumento não é aceito pelo PT. A própria presidente, no discurso de lançamento do programa, declarou que não estava vendendo patrimônio público para fazer caixa.
Os petistas entendem que estão sendo feitas parcerias com o empresariado, e não privatizações. Em meio aos elogios dos empresários ao pacote de investimentos, o PSDB tentou marcar posição. O presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PSDB-PE), declarou: “Decidimos dar apoio à adoção de uma política de privatização que deu certo no governo Fernando Henrique e sempre criticaram”.
Apesar de se tratar de um debate datado e de pouco impacto em meio ao eleitorado, a preocupação do PSDB com o tema procede. Independentemente da discussão a respeito dos benefícios ou prejuízos das privatizações, o fato é que o PT foi vitorioso no embate político-ideológico em relação ao assunto. Além de ter incorporado a prática das PPPs ao seu ideário econômico.
No entanto, o que chama a atenção é que no Brasil existe uma aparentemente irresistível vocação ao centro. Ainda que levemente cambado à esquerda. A vocação centrípeta é clara quando PT e PSDB, mesmo esgrimindo verbalmente, concordam com as soluções adotadas. Os demais partidos nem se manifestam.
A opção para o centro-esquerda vem crescendo no Brasil há muito tempo, com apenas alguns breves lapsos. Por exemplo durante o período do ex-presidente Fernando Collor, o Breve (1990-1992). No campo econômico, as áreas de consenso são muito maiores do que aquelas em que há pontos de atrito. De modo geral, todos gostam de um Estado forte, intervencionista e empreendedor.
Pesquisa feita em 1990 e em 2009 pelos cientistas sociais Cezar Zucco Jr. e Timothy Powers sobre o posicionamento ideológico dos parlamentares brasileiros aponta um encolhimento daqueles que se identificam como sendo de “direita”. A ampla maioria se enquadra à esquerda. Os pesquisadores também consideraram que a direita sumiu e a esquerda foi para o centro.
O fato de os políticos verem, em geral e independentemente de partidos, o Estado como solução para os problemas do país, vem de alguns fatores. O primeiro é a constatação de que o Estado é maior e mais poderoso que a sociedade. O segundo é que as instituições refletem tal predomínio e servem mais ao Estado do que à sociedade. Em terceiro lugar está o seguinte fenômeno: o Estado forte criou uma casta de funcionários públicos que atua para se apropriar de benefícios e vantagens gerados pela Poder Público por meio de políticas corporativistas.
Assim, a vocação centrista da política nacional funciona, mais ou menos, como a revoada de mariposas em busca da luz. O Estado forte e intervencionista é aquele que aquece, gasta, emprega e distribui. é também o Estado que mata, com sua burocracia e sua ineficiência. Não advogo um Estado menor, e sim uma sociedade mais forte e um Estado mais eficiente. Mas ainda levará muito tempo para isso acontecer.