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PMDB em crise existencial ameaça ajuste

MICHEL TEMER
Durante anos, Michel Temer ficou à margem da coordenação política. Tanto Henrique Eduardo Alves quanto Renan Calheiros condenavam a forma de tratamento dado ao partido e ao vice-presidente. Enquanto isso, a coordenação política do governo sofria no Congresso. O entendimento do Palácio do Planalto com o PMDB no Congresso era visto com essencial para estabilizar o governo.
Após a crise dos noventa dias do Dilma 2, a coordenação política foi dada ao PMDB. Era uma decisão mais do que esperada. E que foi saudada por todos como a decisão mais do que certa. Porém, no momento em que chegou ao poder, o partido entrou em crise existencial. Os três polos que geram a força do partido vivem em permanente tensão. Enquanto Eduardo Cunha e Michel Temer estão se entendendo razoavelmente bem, Renan Calheiros bate firme em Dilma, no PT, na distribuição de cargos e em Temer como coordenador político.

O que era uma disputa institucional entre o Congresso e Executivo e uma resposta à voracidade do PT e a incompetência da coordenação política, transformou-se em autofagia. Uma briga interna que comprova a máxima: quando tudo está ruim, pode ficar ainda pior. Como bem disse Josias de Souza, o PMDB é a mosca de sua própria sopa.
A primeira consequência é a desmoralização do partido como grande fiador da governabilidade, papel que se atribuiu sempre que aderia ao governo de plantão. O PMDB se alardeou o seu papel como estabilizador das expectativas ao longo da redemocratização do Brasil. E, sem dúvida, o partido foi essencial em muitos momentos delicados da política nacional. Com a crise, o PMDB fica com o seu perfil rebaixado.
A segunda sequela é o abalo da liderança de Michel Temer, que sempre foi o inconteste líder do partido. Continua sendo uma liderança, mas não é absoluto como o foi. Temer foi capaz de estabilizar, durante muitos anos, as diversas correntes do partido. No entanto, desde o Dilma 1 já existiam setores insatisfeitos que se concentravam mais na Câmara dos Deputados. Hoje a contestação parte do Senado de Renan.
A terceira e mais grave das consequências é a de retirar do governo o mapa de saída da crise política. Diagnóstico comum a todos os que acompanham as dificuldades da presidente Dilma é que o governo tinha que estabilizar sua relação com o Congresso para governar. Pois ficou claro que a nomeação de Temer ainda não alcançou tal objetivo. Pelo contrário. O apoio ao governo caiu na Câmara e é incerto no Senado.
A quarta consequência está no fato de que o desentendimento revela que o PMDB não está preparado para o sucesso e terá muitas dificuldades para construir uma narrativa poderosa para as próximas eleições nacionais em 2018. Com tamanha sensibilidade e suscetibilidades, como o partido poderá construir uma candidatura presidencial?
É evidente que a culpa não é só dos faniquitos do partido. Todos sabem que a designação de Temer como coordenador político só dará certo se ele tiver o poder da caneta. No momento, além de enfrentar o mal humor de Renan, começa a se existir a sensação de que a Casa Civil trabalha contra Temer e assistiria com prazer as dificuldades do Vice-Presidente.
O governo Dilma pode superar tudo isso. O PMDB também, Pelo lado do governo, o primeiro desafio é estabilizar a relação com o PMDB. O segundo é acelerar a nomeação de aliados. Apesar da crítica de Renan ao aparelhamento, senadores da base aliada já encaminharam nomes para o segundo e terceiro escalões do governo. O terceiro desafio encontrar uma narrativa pós-crise, espécie de cartilha para a saída do momento ruim.
Foto: Internet