O Mensalão Candango é mais um que se junta ao condomínio de episódios abomináveis da política nacional.
As justificativas apresentadas oscilam entre o ridículo e o trágico. Mesmo assim, não há garantia de que seu desfecho seja aquele que muitos esperam.
O escândalo de Brasília pode ter desdobramentos em três esferas: legislativa, judicial e partidária.
A esfera legislativa está localizada na Câmara Distrital, onde muitos se beneficiaram do Mensalão Candango.
Daí restar improvável que tal organismo, que se diz representar o povo de Brasília, tenha bolas para inaugurar um processo de impeachment.
Seria um suicídio coletivo com o governador Arruda no papel de uma espécie de Jim Jones do Cerrado.
No campo judicial, Arruda se preparou com bons advogados.
Lamentavelmente, para ele, escolheram uma explicação alegórica como destino dos recursos amealhados: panetones.
Imagino o Pacotão desfilando com um imenso panetone à frente dos foliões.
Defender verbas para panetones vai ser um espetáculo judicial. No tapetão, Arruda terá tempo suficiente para impetrar recursos e embargos que vão empurrar as investigações para as calendas.
Salvo uma condenação relâmpago, ele escaparia da inelegibilidade. Assim, passando superbonder na cadeira e usando a herança processualística franco-ibérica que nos flagela, com tempo ganha tempo e prepara uma saída.
Na âmbito partidário é que reside o problema. Caso seja afastado do DEM, o governador ficará sem partido para disputar as próximas eleições.
E mesmo levando a decisão para a justiça, sua situação seria frágil o que, no mínimo, comprometeria sua campanha. Até o dia 10, o DEM irá decidir o que fazer com Arruda.
Uns dizem que ele será expulso. Outros dizem que não. Serão dias de intensa articulação e elevada voltagem.
Cheio de amigos no partido – inclusive aqueles que trabalharam para evitar que Paulo Octávio fosse o candidato, Arruda está sangrando. Pior, o DEM também.
Sem uma decisão claramente defensável, a própria existência do partido corre risco. Para o PSDB, que já carrega o peso do mensalinho mineiro e das peripécias dos governos Cunha Lima (PB) e Yeda Crusius (RS), incluir na mochila o Mensalão Candango será uma carga adicional – e insuportável.
Serra e Aécio olham a questão com cuidado.
Como em Brasília se aplica o axioma Roriz – “Acompanha-se o aliado político até o precipício, mas não se pula junto com ele” –, Arruda está entregue à própria sorte e poderá ser abandonado, tal qual os soldados em filmes de guerra.
Especialmente, em duas circunstâncias. A primeira se o ritmo de denúncias continuar avassalador; a segunda se o interesse eleitoral presidencial do DEM e do PSDB prevalecer.
Paradoxalmente (ou não, como diria um Caetano de programa humorístico), para Serra ou Aécio, o prejuízo de conviver com o escândalo é gigantesco em termos nacionais e relativo em termos locais.
Como em física e em política tudo é relativo, o certo mesmo é aguardar o Pacotão.