Murillo de Aragão
Publicado no O Tempo – 10/12/2015
O futuro político da presidente Dilma Rousseff vai depender do comportamento de quatro partidos médios, a maioria com bancadas superiores a 30 deputados. São eles que determinarão a direção do pêndulo do impeachment. De acordo com nossos cálculos, as seguintes legendas deverão apoiar o pedido de afastamento da presidente de forma majoritária: PMDB (50%), PSDB (100%), DEM (100%), PSB (70%), SD (100%), PTB (55%), PPS (100%).
Hoje, eles somam 190 votos garantidos pró-impeachment, número muito abaixo dos 342 necessários para aprovar o julgamento de Dilma Rousseff pelo Senado. Faltaria, portanto, uma centena e meia de votos – 152, para ser preciso – para tirar a presidente da cadeira do Planalto.
Assim, o desafio das forças pró-impeachment será cooptar parlamentares entre os partidos intermediários que ainda são, majoritariamente, contra o impeachment. São eles: PSD, PR, PP e PMB, que, juntos, formam uma bancada de 127 parlamentares. Nesses partidos, alguns votos já são pró-impeachment, mas a maioria, não. Assim, em tese, se esses quatro partidos decidirem em bloco por uma posição, a questão estará resolvida com folga, seja para um lado ou para outro.
Daí a cautela e o silêncio de suas lideranças. Rogério Rosso, do PSD, até agora não definiu como votarão seus liderados, apesar de seu partido estar fortemente plantado no governo. Gilberto Kassab, dono do PSD, costuma cobrir a presidente de gentilezas, mas aguarda o melhor momento para se definir e orientar seus seguidores. Na política, Kassab é um “total flex”: tem alianças com o PT e o PSDB, além da proximidade histórica com os tucanos José Serra e Marconi Perillo.
Como os partidos mencionados são desossados e de pouca ou nenhuma aderência programática, seus posicionamentos serão definidos pela capacidade de o governo “atrair” seus respectivos apoios. Na contramão da força governista, poderão se sentir tentados a trair compromissos, caso a pressão das ruas seja muito forte e a presença na eventual futura nova administração esteja garantida.
Ou seja, no fundo, a questão do impeachment coloca para as duas forças o desafio de criar uma nova e ampla maioria, que deverá governar o país após a conclusão do processo, com ou sem Dilma. Significa que a nova maioria deverá ter a representação absolutamente paritária e equilibrada no governo.
A crise do presidencialismo de coalizão terá que ser resolvida dentro dos marcos do próprio presidencialismo de coalizão, uma equação difícil para o PT, que costuma estabelecer parcerias para dominá-las mais tarde, quando a vitória, conseguida com o apoio de outras legendas, finalmente chega.
Outro fator que terá forte influência na votação do impeachment é o voto da bancada do PMDB, que segue ao lado da presidente, mas tem suas convicções sistematicamente postas a prova. Trata-se do PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e José Sarney.
Eles são governistas, mas sua maneira de agir enfrenta uma série de condicionantes: 1) Eduardo Cunha, o presidente da Câmara responsável pelo acolhimento do pedido de impeachment, é peemedebista com forte influência sobre os colegas; 2) o partido lançou recentemente uma proposta de governo intitulada “Uma ponte para o futuro” que está na contramão do que prega o governo Dilma; 3) o grupo de assessores mais próximo do vice-presidente Michel Temer defende o desembarque do governo Dilma e propõe que essa decisão seja votada no Congresso do partido, em março.