As tendências para 2012 no Brasil devem ser examinadas a partir de quatro vetores: economia, política, sociedade e ambiente internacional. Este primeiro artigo trata da questão econômica. Os seguintes abordarão os demais vetores.
Basicamente, o modelo de gestão econômica adotado no país segue um padrão único que mistura: capitalismo privado, capitalismo de Estado, forte arrecadação tributária, intervenções relevantes do governo na economia, gastos com políticas sociais, câmbio com flutuação suja, controle de inflação, criação de empregos, geração de superávit primário e reservas elevadas.
No atual momento, a questão econômica assume papel importante no controle político e social do país. Sem uma gestão econômica popular, o governo sucumbiria. Primeiro, por conta da desagregação da base política. Segundo, pelos ataques que receberia dos ex-aliados. Por fim, a mídia e a sociedade civil organizada terminariam o serviço.
Esse modelo desperta críticas apaixonadas em muitos por não executar algumas das reformas constitucionais pendentes e/ou por não tratar de nossos desafios com uma abordagem menos estatizante e intervencionista. No entanto, tal modelo está dado e só mudará se ocorrer um evento de repercussões planetárias. Mantendo-se o mundo mais ou menos como está, ele permanece.
Existe uma dicotomia nas expectativas para a economia em 2012. O governo tem uma expectativa de crescimento perto de 5%. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresenta uma visão mais pessimista (3%), baseada nos gargalos da economia brasileira, entre eles, tributos, burocracia e falta de competitividade. Sem contar o ambiente internacional, que pode vir a travar o desempenho do país no próximo ano. Outros acreditam que seremos bastante afetados pelo cenário de desaquecimento global.
Porém, ao avaliar a conjuntura para 2012, é razoável esperar que a economia no Brasil, impulsionada pelo mercado interno, produza crescimento e emprego sem gerar inflação politicamente significativa nem ameaçar os fundamentos que orientam a gestão econômica. Os sinais de aquecimento já podiam ser sentidos neste final do ano.
Em novembro de 2011, a confiança do consumidor atingiu patamar recorde, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Comercial de São Paulo, que produz o índice Nacional de Confiança (INC) em parceria com o Instituto Ipsos (ACSP/Ipsos). O índice apurado foi de 170 pontos em novembro, contra 157 pontos em outubro.
O INC em novembro de 2010 foi de 159 pontos. Para a Associação Comercial de São Paulo, o otimismo dos consumidores já revela o impacto psicológico positivo das medidas de estímulo ao consumo, tais como a redução da taxa de juros e de impostos, entre outras.
O otimismo no final do ano também foi captado por pesquisas conduzidas pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), que apurou que os brasileiros vão gastar mais no Natal de 2011. O levantamento aponta que o gasto médio com presentes vai ser 25% maior do que em 2010, quando foi de R$ 205. Em 2011, deve ficar em R$ 257.
Assim, acreditamos que é possível crescer acima dos 4%. O bom desempenho da economia em 2012 deve ser assegurado por diversos fatores: pela gestão econômica, que desperta confiança em investidores, empresários e consumidores; pelo gasto público, orientado para a infraestrutura; pelo consumo, estimulado tanto por medidas de crédito quanto pelo novo salário mínimo; e pelos programas sociais, que visam eliminar a pobreza absoluta no país. Deve-se considerar, ainda, a ocorrência das eleições municipais, que aceleram os gastos públicos no primeiro semestre e os gastos com as campanhas eleitorais a partir de julho.