A presidente Dilma Rousseff (PT) deu início à reforma ministerial, cujo principal objetivo é o fortalecimento da aliança que lhe dará suporte nas eleições de outubro. Nos próximos dias, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), assumirá a Casa Civil no lugar de Gleisi Hoffmann (PT-PR), que deixará o cargo para se candidatar ao governo do Paraná. A partir de agora, Mercadante tende a se consolidar como o “homem forte” do governo Dilma este ano (governo e PT entendem que é necessário uma Casa Civil forte em ano eleitoral) e também no segundo mandato, caso a presidente confirme o favoritismo e seja reeleita.
Para o lugar de Mercadante na Educação, a tendência é que o secretário executivo da pasta, José Henrique Paim, seja efetivado no cargo. Paim, filiado ao PT, é o número dois na Educação desde a gestão do ex-ministro e hoje prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).
Também nos próximos dias, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), deixará o cargo para iniciar sua campanha ao governo de São Paulo. O novo comandante da pasta, que abriga o programa Mais Médicos, principal marca do governo Dilma até agora, será Arthur Chioro (PT), secretário de Saúde de São Bernardo dos Campos (SP). Chioro assumirá a pasta com o aval de ninguém menos que o ex-presidente Lula.
A manutenção do PT no comando da Casa Civil, da Educação e da Saúde já era esperada e se deu sem disputas internas no partido. No entanto, a mesma situação de tranquilidade não ocorre nas negociações das demais trocas ministeriais.
A maior insatisfação a ser administrada pelo Palácio do Planalto está localizada no PMDB, o principal aliado do governo Dilma Rousseff. é importante destacar que o tratamento a ser dado ao PMDB nessa reforma ministerial merece cuidados, pois a insatisfação peemedebista tem potencial para contaminar o processo eleitoral nos estados, caso não seja gerenciada com eficiência.
Embora o PMDB esteja aguardando uma resposta de Dilma Rousseff em relação ao pedido do partido de aumentar de cinco para seis pastas o seu espaço no governo, o clima nos bastidores peemedebistas é de intensa movimentação. Na próxima terça-feira (28), está prevista uma reunião da cúpula do PMDB para decidir quais nomes de possíveis ministros o partido apresentará à presidente.
Pelas informações que circulam em Brasília, caso a Secretaria de Portos seja oferecida ao PMDB, o indicado pelo partido tende a ser o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS), que é muito próximo ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP).
No Ministério da Agricultura, caso Antonio Andrade (PMDB-MG) saia do comando da pasta para concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados, o nome do deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG) aparece na bolsa de apostas. A dúvida é saber se Quintão aceitará abrir mão da reeleição praticamente assegurada na Câmara.
Apesar do desejo de Dilma de entregar o Ministério do Turismo ao PTB, o PMDB deseja manter o controle dessa pasta, indicando o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para o lugar de Gastão Vieira (PMDB-MA), que deixará o cargo para ser candidato a deputado federal.
A insatisfação no PMDB não fica restrita apenas à reforma ministerial. No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral (PMDB) está irritado com a decisão do PT de deixar de apoiar a sua gestão para lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ). No Ceará, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), que será candidato a governador, está descontente com a resistência do PT em apoiá-lo. Como forma de pressão, o comando nacional do PMDB ameaça antecipar a convenção de julho para abril. Segundo cálculos do comando peemedebista, 14 dos 27 estados já se posicionaram favoravelmente à antecipação.
Não é apenas no PMDB que existe uma pressão de aliados sobre o Planalto. Na semana passada, o bloco PP e PROS, que reúne 62 deputados federais, se movimentou nos bastidores. Apesar da tendência de o PP manter o Ministério das Cidades e de o PROS ganhar o Ministério da Integração Nacional, o bloco PP-PROS pressiona por mais espaço na Esplanada. A bancada do PROS, por exemplo, entende que a indicação para a Integração Nacional contemplaria apenas a família Gomes no Ceará e não os deputados federais da legenda.
Conforme podemos observar, a reforma ministerial deu seus primeiros passos. Porém, trata-se de uma reforma complexa que demandará muito “jogo de cintura”, principalmente no tratamento a ser dado ao PMDB para que o governo não sofra retaliações no Congresso nem durante as eleições de outubro.