Durante a campanha presidencial, o PT e o governo deram sinais de que trabalhariam a favor de um pacto com a oposição tão logo o período eleitoral terminasse. O discurso era feito ao mesmo tempo em que críticas pesadas eram feitas ao PSDB e ao candidato do partido à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
Como reação, caciques importantes do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso e o presidente da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), deram sinais claros de que não haveria espaço para entendimentos com o PT. A mensagem foi repetida com igual vigor por Rodrigo Maia, líder do PFL.
Afinal, há espaço ou não para um entendimento entre governo e oposição?
Antes do escândalo do dossiê Cuiabá, o entendimento seria mais do que possível. Os escândalos do Mensalão e dos Sanguessugas já estavam absorvidos e não motivavam maiores escaramuças. O entendimento possível deveria ter como base a recuperação de uma agenda no Congresso (tópicos da reforma política, recuperação da imagem do Congresso, Super Simples etc.).
Sob a ótica de Lula, o discurso a favor de um entendimento é muito conveniente por dois fatores principais. Em primeiro lugar, para tentar inibir uma postura mais agressiva da oposição após a eleição. Segundo, para sinalizar para a sociedade em geral e para o eleitor em especial que o governo está disposto a estabelecer um diálogo de alto nível com a oposição.
O fato é que dificilmente este diálogo irá prosperar no momento inicial. Até mesmo por uma questão de posicionamento e prioridade.
Para Lula, a prioridade é recompor a sua base política e cooptar os governadores. Para a oposição, é dificultar a operação do governo em busca de maioria na Câmara e no Senado. No cenário inicial pós-eleições, a oposição ainda tem munição para atacar o governo com base no dossiê Cuiabá e suas revelações adicionais. Além do mais, está muito dolorida pela lavada que receberam de Lula.
Esses pontos podem ser explorados para tentar enfraquecer o governo e dificultar a composição das maiorias governistas no Congresso.
No entanto, mesmo sendo agressiva, a oposição não tem gás para perturbar o governo de forma efetiva sem a ajuda de algum fato novo, tal como: revelações escandalosas dos escândalos velhos, novo escândalo e/ou piora significativa do ambiente econômico. Por exemplo, chamar o filho do presidente e alguns ministros para depor pode causar constrangimento, mas não afeta a governabilidade a longo-prazo.
Assim, caso nenhum fato novo ajude a oposição a manter o tom agressivo, as portas do entendimento vão começar a ser reabertas.
O caminho para tal será o diálogo com os governadores e a recomposição de uma agenda mínima no Congresso Nacional.