O ex-presidente Lula despachou 24 horas em Brasília, na semana passada, para uma DR (discutir relação) com o PMDB. Os políticos com quem ele conversou ficaram animados com a possibilidade de mudança no diálogo entre a presidente Dilma Rousseff e a base aliada. E ouviram sua previsão a respeito do futuro do relacionamento entre eles: a coordenação política do governo não completará um ano.
Quando age assim, conversando com aliados e removendo obstáculos em favor do bom entendimento político, o ex-presidente é o “Lulinha Paz e Amor”, o personagem de bem com a vida criado pelo marqueteiro Duda Mendonça com o qual Lula venceu as eleições de 2002.
“Lula é o melhor combustível do PT”, resumiu o senador Jorge Viana (AC), a propósito da rodada de conversas do ex-presidente em Brasília. “Mesmo nos piores momentos, consegue passar fé, otimismo e luz”. Nem sempre é assim, contudo. O mesmo Lula conciliador, dependendo da plateia, pode ser um incendiário, como aquele que participou de ato em defesa da Petrobras, no Rio. “Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas”, exortou o ex-presidente, para espanto de muita gente.
Como costuma acontecer, Lula tem um discurso para a militância, como esse do Rio, quando costuma pregar o confronto e menciona a luta de classes, e outro quando está entre os políticos que apoiam o PT e fizeram parte de sua base parlamentar no Congresso. Na semana passada, ele desempenhou os dois papéis com diferença de dias.
Ambos visam o mesmo objetivo: a manutenção da posição hegemônica do PT, o que acontece sempre que o partido de Lula puxa a corda excessivamente em benefício próprio ou precisa dramaticamente do respaldo do aliado no Congresso, como agora.