Com menos de um ano da eleição de Dilma Rousseff, está mais do que claro que o perigo mora na política. Por mais que os economistas tratem de alertar que decisões erradas no campo cambial e monetário podem afetar nosso futuro, o que realmente dita a qualidade do futuro é a natureza das decisões políticas que tomamos.
O governo Dilma encontra-se diante de alguns dilemas e desafios. O primeiro deles é adequar o modelo de gestão da presidente ao modus operandi político do Brasil. Não se trata de uma questão de conteúdo. é, basicamente, uma questão de forma.
Dilma vem de uma época em que o líder mandava e os outros obedeciam. A política brasileira tende a funcionar na base do popular “sim senhor”, e nada acontece. Com meia dúzia de socos na mesa, Dilma tenta reverter a histórica vocação para o imobilismo a que muitos estão acostumados.
é evidente que existe um choque de cultura entre o que o mundo político está habituado e o que a nova presidente oferece como modelo cultural. Uma frase é exemplar: “Dilma me trata muito bem, mas não me consulta”, disse José Sarney.
A outra questão é de conteúdo. Dilma é uma mulher de ideias e de princípios. Em seu mind set, qualquer coisa que não seja feita em nome da política é inaceitável. Por exemplo, esquemas que se apropriam de verbas para favorecer uns e outros.
Ou, ainda, ações que visem assegurar benefícios imorais para grupos políticos. é óbvio que ela suspeita, assim como Lula, FHC e Itamar suspeitavam, de muitos grupos políticos que exibem uma riqueza incompatível com o exercício honesto da política.
No entanto, estirpá-los da atividade política é quase tão delicado e difícil quanto remover uma ostra de sua casca com a força da mente. O uso da política em proveito próprio é um cancro da sociedade brasileira cujo fim demandará algo tão radical quanto foi a perestroika.
Porém, por incrível que pareça, os tempos da atual política podem estar acabando. Nos próximos anos, com a ascensão da nova classe média, o fortalecimento da cultura evangélica, a expansão da atividade econômica e, ainda, a expansão da internet e das redes sociais, tudo vai mudar. O duro é saber como e quando. Mas já está em marcha.
Por exemplo, o Brasil vive o mesmo fenômeno que os estados Unidos viveu no final dos anos 50: a migração do transporte interestadual dos ônibus para os aviões. Estima-se que o transporte aéreo brasileiro quadruplicará de tamanho até 2025! Com tais transformações, é difícil crer que o atual modelo político resista.
Provavelmente, nas eleições de 2014, algumas pistas das mudanças poderão estar mais evidentes, ainda que, ao que tudo indica, o esquema político vigente possa se manter com a atual fórmula – que junta honestos, lunáticos, idealistas, cretinos e ladrões em um mesmo barco.
A oposição – que não merece tal identificação – tampouco percebeu o que pode acontecer. Suas recomendações no campo econômico, divulgadas há pouco, são risíveis e ridículas. Apegada a modelos de um mundo pré-crise de 2008, acredita no receituário que nem mesmo os seus inventores aplicaram. A fórmula da mudança não virá desses setores ditos inteligentes. Tampouco das velhas e datadas mobilizações da esquerda messiânica, cujo discurso usa as muletas do fracasso dos outros.
Assim, qual uma erupção vulcânica, não se sabe por onde ela virá. Nem como virá. Mas virá. Os fatores que impulsionarão tal fenômeno já estão postos à mesa e se relacionam, sobretudo, com a sociedade brasileira e com o modo como os brasileiros passarão a se ver de ora em diante.