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O leilão de energia e as leituras trocadas

É muito comum que governo e oposição tenham leituras distintas dos mesmos fatos. E isso faz parte do jogo político. Foi assim no debate da Rede Bandeirantes, em que a coordenação tucana/pefelista saiu comemorando o desempenho do candidato Alckmin, enquanto, ao lado deles, ilustres petistas, como Marta Suplicy, dava entrevistas celebrando a participação do presidente Lula e ironizando o rival.


 


Tão comum quanto isso, porém, menos salutar, são as leituras trocadas entre governo e o setor privado. Neste caso, as conseqüências práticas são bem piores.


 


Em relação ao recente leilão de energia, ocorrido na última terça-feira (10), mais uma vez o governo, como nos leilões anteriores, comemorou o resultado. Para os membros do governo, com este leilão, afastou-se definitivamente a ameaça do apagão. É interessante perceber que os mesmos que agora rejeitam a possibilidade de blecaute, antes diziam que tal ameaça era mera invenção dos alarmistas.


 


Do lado dos investidores do setor de energia, a leitura sobre o leilão vai na contramão. Muita participação estatal, muita termelétrica, preços baixos, e pior, o risco do apagão continua de pé.


 


Talvez esteja na hora do governo prestar mais atenção no que diz o setor privado. E não apenas rivalizá-lo com opiniões antagônicas. A não ser que se tenha abandonado o discurso da atração de investimentos, das parcerias público-privadas e do crescimento econômico.


 


Como exemplo, e já que se falou em rivalizar, a Argentina aprovou nesta quarta-feira (11) a Lei de Hidrocarbonetos, prevendo uma série de incentivos à exploração de novas reservas de petróleo e gás natural, com benefícios que vão de 10 a 15 anos. Devolução antecipada do Imposto de Valor Agregado e isenção de tributos são alguns deles. Isto sim é atrair capital. Deixar as agências reguladoras sem recursos e sem diretores por meses, não.