Murillo de Aragão
Em uma disputa presidencial o discurso eficiente é o discurso vencedor que, por sua vez, não é necessariamente o melhor. Ou o que tenha mais coerência ou qualidade em suas propostas. Isto pelo simples fato de que o discurso vencedor se relaciona com vários outros fatores que podem, ou não, se relacionar com o conteúdo propriamente dito do discurso.
Sem pretender esgotar o tema, a questão crítica para o discurso ser eficiente é o emissor do mesmo. Palavras vazias em um orador acreditado valem muito. Por outro lado, alguém sem credibilidade pode dizer idéias geniais e ficar sem nenhuma conseqüência.
Lula ganhou a eleição em 2002 sem entrar em bola dividida. Não polemizou com ninguém e recheou seu discurso de imagens bonitas. Ficou conhecido como Lulinha Paz e Amor. Quando criticava, o fazia de forma indireta com frases de efeito. Tipo em meu governo corrupto não entra. Nada de novo, afinal ninguém diz que corrupto vai participar de governo algum.
Todos, até Paulo Maluf, por exemplo, fazem discurso condenando a corrupção. No fim das contas, os discursos tendem a ser mais ou menos iguais e giram em torno de um temário limitado. Prometem justiça social, desenvolvimento, emprego, segurança, educação, soberania, respeito aos aposentados, combate à corrupção e por aí vai.
Considerando que os discursos são mais ou menos iguais, o que torna um discurso eficiente é a maneira com que o discurso é feito e por quem. Vamos começar pelo político. Certas palavras na boca de Maluf fazem sentido: obras públicas. Caso o tema seja prioritário para o eleitor, o fato de existir uma relação crível entre Maluf e a realização de obras públicas pode alavancar sua votação.
Lula goza de maior credibilidade quando promete ações de natureza social. Sua trajetória legitimava o discurso. Assim, é crítico para um discurso potencialmente eficiente que a mensagem tenha uma relação de credibilidade com o político. Nem que tal relação seja uma inverdade, um artifício ou mesmo um factóide.
Alguns, muito habilmente, constroem um lugar de fala e a partir daí emitem suas mensagens. Por exemplo, o jornalista Antonio Britto se elegeu deputado federal e decidiu escolher a previdência social com um tema preferencial no seu discurso. Estudou o assunto, assumiu a condição de especialista na bancada do PMDB e virou ministro da Previdência Social.
Outros conseguem estabelecer uma ponte de comunicação entre os temas onde são fortes para outros temas. Lula passou anos dizendo que todos os outros eram exploradores dos trabalhadores e que ele, apenas ele, era o detentor da moralidade e dos bons costumes na política. Não funcionou. Venceu quando aliou a sua credibilidade social com alguns outros temas. Funcionou quando explorou o cansaço com o governo do PSDB e transmitiu potencial credibilidade na sua política econômica. Foi com a Carta aos Brasileiros que Lula assumiu que os contratos seriam integralmente respeitados e que não haveria loucuras. Lula alavancou sua credibilidade econômica a partir da sua imagem de político honesto.
A intuição do político é outro ingrediente importante. Em meio a uma cachoeira de sugestões o político intui os temas que devem ser ditos. Brizola ganhou muitos votos em sua primeira eleição ao governo do Rio de Janeiro quando Homero Icaza sugeriu que ele falasse dos aposentados. Brizola percebeu a oportunidade de falar com um público que estava esquecido pelos demais candidatos. Germano Rigotto, quando se elegeu governador do Rio Grande do Sul, percebeu que o eleitor estava cheio da guerra verbal entre o PT e Antonio Britto. Explorou o fato e saiu da condição de azarão para ser eleito.
Boa assessoria, credibilidade, sensibilidade e intuição servem muito. Porém, sem carisma e empatia com o eleitor de nada adiantam. O político vencedor, seja honesto ou não, é um ator cujo discurso deve galvanizar aliados, motivar militantes e convencer o eleitor. Nas democracias eletrônicas, onde a televisão é fator essencial, o político termina se transformando em um ator cujo grande talento é o de provocar emoções positivas a seu favor.