Em abril deste ano, as reservas brasileiras alcançaram US$ 326 bilhões. Cifra impensável há algumas décadas, quando o país vivia em permanente estado de penúria e na dependência da boa vontade de organismos internacionais.
Segundo alguns críticos, nossas reservas são excessivas e custam muito alto. Para quem, como eu, passou boa parte da vida vendo o Brasil com escassez de reservas, a crítica parece improcedente.
De acordo com números do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, o custo nominal das reservas deve chegar em 2011 a R$ 27 bilhões, o maior em oito anos. Outros avaliam que esse valor seja um pouco mais baixo.
Carregar reservas elevadas tem seu preço. Para se chegar a uma estimativa, calcula-se a diferença entre a rentabilidade das aplicações no mercado externo e a taxa de juros interna. Em 2009, a rentabilidade de nossas reservas foi inferior a 1%.
Apenas nos dois primeiros meses do ano o custo para carregar o total de reservas ultrapassou R$ 6,8 bilhões. A média mensal em 2011 está em R$ 3,4 bilhões. Aumento de 50% em relação a 2010.
A tendência é que o Brasil mantenha a trajetória de acúmulo de reservas, visto que o fluxo de capital estrangeiro deve seguir em alta por aqui. Para o banco WestLB, as reservas brasileiras podem chegar, em 2012, a mais de US$ 400 bilhões.
Considerando tal tendência, o custo de mantê-las continuará a subir e o “prejuízo” será ainda maior do que os R$ 27 bilhões previstos.
Tanto para o FMI quanto para diversos especialistas, as reservas deveriam corresponder a 10% do PIB, o que, no caso brasileiro, representaria algo em torno de US$ 160 bilhões. Ou seja, muito abaixo do que temos. Para outros analistas, o valor poderia ser um pouco maior, algo acima de US$ 200 bilhões.
No entanto, considerando nosso histórico de instabilidades e de escassez de reservas, a recomendação não nos parece adequada. Até mesmo pelo fato de que as reservas elevadas reduzem o risco Brasil e, em consequência, o custo de captação de recursos, refletindo-se, também, no ambiente de investimentos diretos.
O Brasil precisa consolidar sua credibilidade financeira, e nada melhor do que possuir reservas expressivas. Abundância de recursos permite autonomia para navegar nas águas turbulentas da economia mundial nos dias de hoje.
Em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, em novembro do ano passado, Henrique Meirelles, então presidente do Banco Central, argumentou que a manutenção das reservas é uma espécie de seguro “que pode ser acionado nos momentos de sinistro e que também ajuda a evitar problemas”.
De forma prudente, o BC tem diversificado a composição de nossas reservas reduzindo a exposição do Brasil ao risco cambial. Caso a rentabilidade das mesmas seja inadequada, o BC deve pensar em diversificar e, até mesmo, ampliar o portfólio de investimentos visando a uma maior rentabilidade.
Portanto, creio que ainda não é o momento de adotarmos critérios que coloquem nossas reservas dentro dos sugeridos pelo FMI.