Istoé – 18/11/2016
Por Murillo de Aragão
Max Weber, quando tratou da questão da ética, apontou a existência de, pelo menos, duas éticas: a dos princípios e a da responsabilidade. A primeira trata de seguir, basicamente, o que está prescrito. Sem questionamentos. Desde leis até valores morais.
A ética da responsabilidade é aquela em que os fins justificam os meios. A partir da análise das circunstâncias, tomam-se decisões que visam aos objetivos a serem alcançados. Tais decisões podem ser ou não contrárias à ética dos princípios. Por exemplo, quando o PT decide promover o Mensalão, viola princípios éticos legais e programáticos do partido e da sociedade em nome do seu projeto de poder. Quando empresas pagam propina para políticos com a finalidade de ganhar contrato na esfera pública, violam a ética dos princípios e se movem com base na ética da responsabilidade.
A situação pode ser exemplificada ainda com a frase do estadista inglês Benjamin Disraeli: “Danem-se os princípios, o que interessa é o partido.” O que ele quer dizer é que o interesse de cada um se sobrepõe ao interesse geral.
Os desdobramentos da Lava-Jato trazem para o debate o choque entre as éticas de Weber. A Justiça, muitas vezes, julga com base na ética dos princípios. Mas, algumas vezes, seu ativismo revela a influência da ética dos resultados, na busca do poder e da predominância frente aos demais atores. Idealmente, a imprensa noticia com base na ética dos princípios, querendo transformar o mundo com base nos princípios que estão postos.
Já políticos, quase sempre agem com base na ética da responsabilidade e de acordo com seus objetivos. Perder é feio. Para vencer, tudo é válido. Até mesmo espetar o adversário com agulhas, como nossos vizinhos faziam conosco na Libertadores dos anos 1960 e 70.
No momento, não há solução à vista. Continuaremos a misturar as éticas. E a julgar os atos com métricas distintas, típicas de nossa superficialidade cidadã e de nosso pouco apreço à leitura. Tanto a leitura real, dos livros, quanto a dos sentidos. Em meio ao conflito, vemos que as agendas precisam ser claramente identificadas. E que, às vezes, o politicamente correto disfarçado de ética dos princípios não passa do velho e surrado “fins que justificam os meios”. Não há solução à vista. Padecer as dores
do crescimento da democracia em uma civilização que pula do analfabetismo para as redes sociais será a nossa sina.