A menos de um mês do prazo final para a criação de partidos que possam disputar as eleições de 2014, há uma corrida para formalizar novas legendas perante a Justiça Eleitoral. As novas siglas podem alterar o quadro político nas disputas em níveis nacional e estadual.
A Rede Sustentabilidade, partido articulado pela ex-senadora Marina Silva, é o que mais pode influenciar o cenário. A agremiação, cujo maior propósito é lançar Marina a presidente da República, deve atrair políticos insatisfeitos com suas legendas. A Rede tende a capitalizar a seu favor o momento de insatisfação da sociedade com os partidos tradicionais. Durante os protestos de junho, pesquisas apontaram grande identificação dos manifestantes com Marina Silva. Dessa forma, a entrada em cena da Rede pode mexer sensivelmente com o quadro político-eleitoral do país.
No entanto, a Rede ainda tem desafios pela frente. Como ainda não foi oficializado pela Justiça Eleitoral por conta de problemas na checagem das assinaturas, o partido lançado por Marina Silva corre o risco de não ser criado, o que seria negativo para ela. Se isso ocorrer, restaria à ex-senadora filiar-se a uma legenda já existente para que possa disputar o Palácio do Planalto.
Outro partido em gestação é o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força Sindical. Mesmo antes da oficialização, Paulinho já negocia a adesão da legenda com governadores que buscam a reeleição e mantém conversa com os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). A eles, o Solidariedade tem a oferecer a base sindical que gravita em torno de Paulinho, para se contrapor à Central única dos Trabalhadores (CUT), dominada pelo PT e que apoiará a reeleição de Dilma. O eventual apoio de Paulinho é importante para os principais adversários de Dilma em 2014, principalmente para Aécio, que possui um perfil que não seduz o sindicalismo.
A criação do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) está em análise no Tribunal Superior Eleitoral e também pode engordar o quadro partidário do país nos próximos dias. Na semana passada, depois de o governador Eduardo Campos (PSB-PE) pressionar o também governador Cid Gomes (PSB-CE) a apoiá-lo numa eventual candidatura a presidente, especulou-se que Cid poderia migrar para o PROS e levar com ele importantes lideranças políticas de seu Estado.
Quem também poderá trocar de legenda até o início de outubro com o objetivo de disputar o Palácio do Planalto é o ex-governador José Serra (PSDB). Como seu partido tende a lançar a candidatura do senador Aécio Neves (MG) ao Planalto, restaria a Serra mudar de legenda caso queira disputar novamente uma eleição presidencial.
Caso saia do PSDB, o destino de Serra deve ser o PPS, partido liderado nacionalmente pelo deputado federal Roberto Freire (PPS-SP). Porém, como Serra costuma tomar suas decisões políticas no limite do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, a tendência é que ele decida se fica ou não no PSDB apenas no fim do mês. Enquanto isso, as especulações sobre seu futuro político permanecerão na agenda.
Além de se tornarem oficiais, esses partidos buscam atrair quadros, especialmente deputados federais, para garantir tempo de rádio e TV e recursos do Fundo Partidário. Como a filiação a partidos recém-criados não é considerada infidelidade partidária e não acarreta perda de mandato, parlamentares migram para as novas legendas em busca de mais espaço.
Portanto, uma visão mais clara do cenário eleitoral de 2014 passa pela definição do quadro partidário do país. A partir de outubro é que será possível ter uma noção da correlação de forças nas eleições nacional e estaduais.