A certa altura de sua entrevista à GloboNews, o ministro da Economia Paulo Guedes soltou uma pérola: “A minha interpretação é que está ficando muito claro para o brasileiro comum o seguinte: tem cinco bancos, tem seis empreiteiras, tem uma produtora de petróleo, tem três distribuidoras de gás e tem 200 milhões de patos. Os patos somos nós.”
Paulo Guedes tem razão. A cidadania brasileira é feita de patos que pagam a conta do privilégio de poucos. Temos uma carga tributária injusta e excessiva, recebemos serviços de baixa qualidade e aceitamos o privilégio das aposentadorias milionárias pagas pelo erário.
Aceitamos pagar um dos maiores spreads bancários do mundo. O nosso é cinco vezes maior que o da quebrada Argentina. Em novembro passado, os juros do crédito rotativo dos cartões de crédito no Brasil chegaram a singelos 305% ao ano.
Aceitamos um Estado burocratizado, que cria dificuldades para vender facilidades. Nós nos humilhamos nos postos de saúde e nos acotovelamos nos transportes públicos de baixa qualidade. E, quando temos carro, vamos desviando dos buracos ou ficamos paralisados em engarrafamentos.
Partidos políticos são sustentados por cofres públicos e não por seus militantes. E, até há bem pouco tempo, os sindicatos de trabalhadores recolhiam compulsoriamente contribuições, além de manterem “monopólios” por região. Agora, após a Operação Lava Jato, a presunção da inocência deixou de existir. Todos são culpados até que se prove o contrário. Na burocracia, tal assertiva já valia há tempos: o cidadão é sempre penalizado com montanhas de pré-requisitos. Quase diariamente a burocracia produz normas e atos num imenso redemoinho de exigências. No Brasil, a papelada aumenta para atender o crescimento da própria burocracia.
Nos tribunais administrativos da Receita Federal, o voto de minerva é de quem jamais votará contra a redução de seus bônus, decorrentes de multas bilionárias. Certidões são penosamente extraídas, mesmo que as obrigações do cidadão estejam em dia. Gastamos horrendas 2 mil horas por ano para pagar impostos, enquanto a média mundial é de apenas 250 horas.
O Brasil pune quem quer gerar emprego com um dos piores ambientes de negócios do mundo. Entre 190 países, estamos no 109º lugar. O País é um imenso paradoxo sustentado por nossa mansidão. Trata-se de uma lógica muito louca, que revela que aceitamos os absurdos apenas por sempre ter sido assim. E se é assim, o verdadeiro absurdo está em nós.