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Meio barro, meio tijolo

Murillo de Aragão


 


 


Apesar do extraordinário apoio popular, da ausência de oposição e da complacência das instituições, o segundo governo Lula começa sob o signo da paralisia e tropeços nas próprias pernas. Meio de férias de uma longa ressaca. Ou seja, um governo a meia bomba. Terá esta semana para começar a mudar a imagem de paralisia. Para compensar a calmaria, o excelente desempenho na luta contra a inflação, graças ao combativo  Banco Central. Lula, a propósito, deveria render homenagem pública à turma do BC que apanha muito.


 


Apesar do comportamento comédia pastelão, os adversários continuam a agir como baratas tontas. A verdade é que Lula não tem oposição para atrapalhar. Atrapalha-se com os seus amigos e aliados. Já na oposição, o episódio do apoio do PSDB à candidatura de Arlindo Chinaglia é uma peça cômica. A desmoralização veio nos ataques de FHC e na lição de moral que Aldo Rebelo passou nos tucanos: É um escândalo o apoio do PSDB ao PT. Ora, não seria um escândalo maior o apoio do PSDB ao PCdoB? Um partido cujos grandes líderes espirituais são os carniceiros Stalin e Enver Roxha? Pelo menos, a aliança de Chinalglia com o PSDB poderia abrir espaço para a discussão de uma agenda de reformas. Será que o PSDB lembrou disso como condição para o apoio?


 


Enquanto a oposição continua perdida e sem agenda, Lula não abre a vantagem que poderia e não aproveita o espaço que se abre para governar. Continua sem Ministério, sem PAC, sem candidato firme à presidência da Câmara da Câmara e (ainda) com os velhos problemas dos controladores de vôo na agenda. Recua na privatização das rodovias federais e fecha os olhos aos retrocessos institucionais de Chávez. No caso do Ministério, depois de insistir nos nomes de Jorge Gerdau e Delfim Neto, finalmente aparece uma novidade: Mauricio Botelho, da Embraer. Seria uma grande aquisição. Porém, Lula continua paralisado pelo PMDB. Na volta das férias deveria nomear os ministros que não são do partido e esperar a definição das eleições no Congresso. Era o menos inconveniente para o país.


 


No caso do PAC, temos mais uma semana pela frente. Lula se dedicará a arredondar as propostas para destravar a economia nos próximos dias. Em conseqüência, as disputas entre a equipe econômica e as demais áreas da administração devem permanecer acirradas. Pelo menos, teremos um aperitivo. O governo pode publicar nesta semana medida provisória criando o Fundo de Investimento em Infra-estrutura, composto de R$ 5 bilhões retirados dos R$ 21 bilhões que o FGTS tem de saldo líquido. Os recursos vão ser empregados principalmente na área de saneamento básico e viabilizar a compra de cotas, ações e participações em empresas que invistam em estradas, ferrovias, rodovias e portos, entre outras áreas. É uma boa iniciativa.


 


No tocante à sucessão na Câmara, a falta de candidato único continua um problema que implica riscos evidentes. O movimento dos deputados éticos em favor de um nome alternativo não deve vingar. Mesmo assim, cria confusão e abre oportunidade para atritos e dissidências. Afinal, qualquer tipo de problema na condução da questão eleva o preço das negociações políticas, obrigando Lula a dar um prêmio de consolação um ministério a Aldo (mais provável) ou Chinaglia. No Brasil é assim: quem cria problema, ganha prêmio de consolação!


 

Na sexta-feira será realizada reunião de Cúpula do Mercosul. Lula deverá ter uma conversa delicada com Chávez sobre os recentes episódios e declarações do ditador venezuelano sobre seu socialismo do século 21. Seria uma boa oportunidade para o brasileiro lembrar Chávez  da existência da cláusula da democracia como condição sine qua para a entrada do país no Mercosul. Defender a democracia seria um bom desfecho para a semana em que  Lula deveria ter colocado a turma para trabalhar.