Murillo de Aragão
Na primeira reunião ministerial com a nova equipe (02/04), Lula fez um apelo: “Não critiquem uns aos outros”. Foi mais uma tentativa de amenizar o fogo-amigo, característica marcante do seu governo. O presidente deixou claro que o controle da inflação é coisa sagrada.
Um dia depois, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, deu entrevista criticando duramente a política econômica. Afirmou que os juros estão altos demais e que a queda do
dólar resultou na perda de 350 mil empregos.
No dia seguinte, o ministro Guido Mantega anunciou a demissão de Almeida. Para o seu lugar nomeou Bernard Appy, que estava na secretaria-executiva e é um dos poucos remanescentes da Era Palocci. Mesmo tendo divergências com o Banco Central, Mantega fez questão de demonstrar apoio ao BC.
Na sexta-feira, em sintonia com o pedido do presidente Lula, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse em entrevista a Agência Estado que não se deveria contar com ele para criticar
a política econômica do governo porque faz parte do mesmo time.
Os dois fatos contêm sinalizações importantes. A principal delas é o compromisso que o presidente da República tem com a atual política econômica. A despeito das críticas, poucas mudanças estão previstas.
Além disso, Lula é o maior fiador da política econômica. Criticá-la publicamente significa criticar o próprio presidente da República. Por isso, quem desrespeitar o apelo de Lula poderá ficar sem emprego, a exemplo do que
aconteceu com Almeida.
Outra mensagem que o presidente fez questão de passar para a equipe é que o prestígio de Henrique Meirelles continua inabalável.
Enfim, Lula não quer turbulência na economia causada por assessores. Sabe que isso poderá prejudicar sua grande ambição, que é terminar o mandato com popularidade em alta. Para isso, manter a economia sob controle é fundamental.
Incompetências e ingerências em qualquer outra área do governo podem até acontecer. Mas na economia o presidente continua sem querer correr riscos.