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Lula foi insuficiente para fazer a mudança que o país pede

Publico aqui e-mail do senador Cristovam Buarque enviado ao jornalista Ricardo Noblat e postado nesta segunda-feira (5).


“Prezado Noblat: sua coluna de hoje é muito feliz, e triste. Trabalho de um bom médico. Análise perfeita de uma realidade política doente.


De fato, não há qualquer mudança substancial a partir de Sarney. Este, fez uma inflexão política, retirando o Brasil do autoritarismo. Depois, o Collor fez apenas ajustes na economia para adaptar o Brasil à nascente realidade globalizante. FHC, outro brilhante ajuste monetário para estancar a inflação.


O Lula apenas ampliou esse processo de diferentes mandatos, inclusive no tamanho e na domesticação de projetos sociais iniciados por Sarney, ampliação no número de beneficiados e domesticação ao transformar a Bolsa Escola do FHC em Bolsa Família, tirando o lado inovador de Educação e caindo outra vez no lado assistencial do Sarney.


O que faz do Lula um bom presidente no sentido da continuidade, mas insuficiente para a inflexão que o Brasil precisa fazer.


Não basta aumentar a produção de petróleo pelo Pré-Sal, é preciso mudar a matriz enegética para adaptá-la à nova realidade dos recursos escassos e do meio ambiente degradado;


Não basta aumentar a indústria automobilística, é preciso reorientá-la para a produção de veículos de transporte de massas e de veículos especiais como ambulâncias, transporte escolar;


Não basta aumentar as exportações, é preciso aumentar o conteúdo de inteligência nos produtos que exportamos, como fez a Embraer;


Não basta construir mais cadeias, é preciso trazer a paz para as cidades brasileiras;


Não basta continuar com pequenos projetos na área de educação, é preciso fazer uma revolução na educação e por meio dela uma revolução na capacidade intelectual brasileira, criando um conhecimento coletivo elevado, que não temos, e mudando a mentalidade brasileira, inclusive para reorientar as estratégias de crescimento, por uma inflexão e mudança de rumo.


Mas para isto não basta pensar apenas na próxima eleição, mas também nas próximas gerações, não basta a política, precisa a história.


Pena que, como você mostra na coluna, não se veja este debate entre os postulantes que você cita.


Eu posso dizer que tentei, em 2006. E se for possivel, tentarei em 2010.


Mas, com a franqueza necessária de quem deseja fazer uma inflexão também na política, reconheço que há um rechaço em relação a mudanças. Nenhum partido parece querer correr risco de oferecer algo mais do que a mais simples continuidade para o sexto mandato. Até porque todos os partidos estão muito parecidos, para não dizer iguais.


A Ditadura criou o instituto da sublegenda, jamais imaginando que chegaria o dia em que todos os partidos são sublegendas de um partido único.


Mesmo tendo sido o criador da Bolsa Escola, principal programa que será o carro chefe do governo, mesmo com a proposta detalhada e iniciada em 2003 da revolução na Educação, mesmo com as propostas de inflexão que apresentei no meu programa para as eleições de 2006, com o título de “A Revolução pela Educação – Como Fazer!” ( talvez o único programa real, não apenas marqueteiro, apresentado naquela eleição ) , temo que a eleição de 2010 seja para escolher o sexto mandato do mesmo, com nova cara, como você mostrou tão bem nesta sua coluna de hoje.


De qualquer forma, peço que registre que tem gente tentando mudar isto. Há políticos dos quais no futuro será possível dizer “ele tentou mudar”, como também há colunistas dos quais se dirá “ele tentou mostrar”, como você em sua coluna.”