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Lula ameaça abandonar estratégia do paz e amor

Matéria publicada na segunda-feira no Valor Econômico sobre evento promovido pela Arko Advice.


 


Valor Econômico
14/08/2006 07:54


BRASÍLIA – Num encontro com cerca de 30 dirigentes do mercado financeiro e empresários, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado irritadiço, no limite da paciência com as acusações feitas pela oposição contra seu governo e ameaçado que ” não tem mais esse negócio do Lulinha paz e amor ” . Segundo o deputado, o clima não é bom e o presidente estaria agora mais para a linha do bateu-levou.


As revelações foram feitas pelo deputado durante um debate, no fim de semana, em um hotel de São Paulo, entre ele e o vereador José Aníbal (PSDB-SP) com dirigentes do mercado financeiro e empresários. O encontro foi promovido pela empresa de consultoria estratégica Arko Advice, do cientista político Murilo Aragão. O relato do deputado petista, que impressionou os executivos presentes, dá conta de que Lula está muito aborrecido e disposto ” a não deixar sem respostas ” as acusações feitas.


Nem esta disposição, entretanto, foi suficiente para levar o presidente ao debate de hoje à noite na TV Bandeirantes. Para explicar o motivo de sua ausência, Lula alegou que precisa preservar a ” instituição Presidência da República ” .


O Valor apurou que, na avaliação de petistas, Lula foi muito mal na entrevista concedida na noite de quinta-feira ao ” Jornal Nacional ” , talvez já como reflexo desse estado de espírito. Em resumo, se expôs mais do que deveria. O presidente teria reclamado depois que não teve oportunidade de falar mais da economia. No encontro de São Paulo, Greenhalgh advertiu que será preciso uma dose maior de calma, porque, afinal, Lula é um candidato que está resistindo há um ano e meio de crise e continua favorito para vencer as eleições de outubro.


Já o deputado José Aníbal reafirmou a estratégia tucana de jogar todas as fichas no horário eleitoral gratuito, a partir de amanhã. Segundo Aníbal, o candidato Geraldo Alckmin ” faz o dever de casa ” . Para Aníbal, há insuficiente compreensão sobre o candidato Geraldo Alckmin. Ele não é candidato padrão brasileiro, carismático, mas com grande capacidade de diálogo e de convencimento que serão demonstrados no rádio e na televisão. Aníbal fez uma aposta que deixou dúvidas entre os executivos: o desempenho de Alckmin em São Paulo seria projetado para o país inteiro.


O encontro foi aberto pelo cientista político Murilo Aragão, que fez duas observações: a coligação PSDB-PFL construiu palanques melhores nos Estados, o que seria um ponto positivo para Alckmin não fosse a adesão duvidosa ao candidato, e que, nas três últimas eleições presidenciais o candidato que estava em primeiro, nesta fase da disputa, vencera a eleição – as duas eleições de Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998) e a do presidente Lula em 2002.


Greenhalgh atribuiu à ausência de José Dirceu na campanha os problemas enfrentados para fechar bons acordos nos Estados. O deputado disse que, em 2002, quando foi fechada a aliança com o PL os palanques estaduais estavam todos montados. ” Agora não foi o ideal ” . Ele citou problemas no Rio de Janeiro, onde Lula está com dois palanques (Marcelo Crivella e Vladimir Palmeira), e São Paulo, onde o PT deveria ter feito um acordo com o PMDB de Orestes Quércia, e Aloizio Mercadante já deveria estar pelo menos na casa dos 23%, 24% nas pesquisas. Até brincou, dizendo que Mercadante estava para José Serra assim como Alckmin para Lula, na eleição presidencial.


Greenhalgh considerou um erro o lançamento da candidatura Nilmário Miranda, em Minas Gerais, mas se mostrou animado com a chapa ” Lulécio ” , assim como em relação ao Paraná: ” O Roberto Requião tem juízo ” , disse. Disse que Lula aposta muito no futuro político do governador mineiro, o tucano Aécio Neves.


Greenhalgh e José Aníbal falaram muito sobre a necessidade da reforma política e a falência do sistema. O petista reconheceu que, se Lula tivesse tocado a reforma no início do governo, talvez não tivesse tendo os problemas que teve de enfrentar. Para José Aníbal, só com a ” introdução rigorosa da fidelidade partidária se faz a reforma política. Sem a fidelidade não se faz reforma nenhuma ” , afirmou.


(Raymundo Costa | Valor Econômico)