Ao longo de quase duas décadas, a qualquer espirro na economia mundial, o Brasil era obrigado a dobrar ou mesmo triplicar as taxas de juros da noite para o dia para evitar uma fuga em massa de investidores estrangeiros do país. Por trás desse ato de desespero, o medo de uma crise cambial. Mas, por mais agressivo que fosse o Banco Central, o Brasil acabava ficando de joelhos. E o enredo era sempre o mesmo: pedir socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e enfrentar uma recessão, com queda no consumo, na produção industrial e nos investimentos. O saldo final foram anos e anos de atraso no desenvolvimento econômico e um desemprego crônico. Em vez de ajudar, a praga dos juros altos só agravava os problemas. é verdade que, nos últimos anos, com a consolidação da estabilidade, o país passou a testar juros menores. Há, por sinal, no BC, a determinação de se buscar uma taxa básica (Selic) de um dígito, provavelmente de 9% ao ano ante os 10,50% atuais. Se concretizada, porém, a missão liderada por Alexandre Tombini não livrará o Brasil de um recorde que envergonha a todos há tanto tempo: o de campeão mundial dos juros altos. Quando descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, de 5,3%, a taxa real está em 4,9%, o dobro do segundo colocado, a Hungria, com 2,8%. "O setor produtivo é o mais prejudicado. Além dos juros altos, as empresas são obrigadas a conviver com um câmbio desfavorável, com impostos elevadíssimos, infraestrutura precária e uma legislação trabalhista totalmente defasada", diz o economista Claudio Porto, presidente da Consultoria Macroplan. (Correio Braziliense)