ACM, Jáder Barbalho e Renan Calheiros tiveram que renunciar à presidência do Senado. A grande imprensa brasileira espera – e deseja – que José Sarney faça o mesmo. Provavelmente não vai acontecer se considerarmos os fatos até hoje trazidos a público. Tal afirmação não vale frente a novos fatos. Sarney fica no comando do Senado por conta de uma conjunção de fatores.
Lula e o governo precisam de Sarney. Mesmo não sendo um aliado fiel e que, muitas vezes, claudicou no apoio ao governo, o raciocínio é que sempre foi ruim com ele e será muito pior sem ele. Sarney ainda controla os ímpetos de Renan, que parece viver em guerra contra Aloízio Mercadante e Tião Viana. Lula e Sarney têm um nível de diálogo que não se encontra igual entre o presidente e qualquer outra liderança do partido.
No PMDB, Sarney é considerado uma liderança inconteste. Uma espécie de poder moderador entre as várias facções. Sua queda causaria um problema sério no diálogo interno no partido, que carece de grandes nomes. Fora Renan, Michel Temer, Henrique Eduardo Alves e alguns outros poucos, o partido está enfraquecido.
O terceiro fator está na relação de Sarney com a oposição. Em especial, o DEM. Ainda que o discurso possa tornar-se mais agressivo, o partido não vai atuar decisivamente para derrubá-lo. O DEM sabe que com Sarney existe algum espaço de atuação para o partido no Senado. O mesmo não se daria, por exemplo, com Renan.
Até agora, as revelações não passam de desvios pequenos sob a ótica do político. Basta ver o que Roberto Requião disse em apoio a Sarney: não privatizou nem se apropriou de recursos públicos. é, evidentemente, uma visão torta da política. As atitudes passadas de Sarney com relação a nomeação de parentes, por exemplo, são inaceitáveis e moralmente reprováveis. No entanto, falta ao mundo político valores que constranjam os políticos a ter uma atitude ética em relação aos recursos públicos.
Vale comparar – ainda que mal comparando – a situação de Sarney com a de Collor. Os eventuais crimes de Collor não o derrubaram, e, sim, a falta de apoio político. Caso tivesse o placar a seu lado (maioria governista no Congresso), teria sobrevivido. Jovem, impulsivo e politicamente incompetente, Collor achou que poderia governar sem o Congresso. Já Sarney tem apoio dos senadores. Consta que 51 já teriam assinado manifesto a seu favor. Portanto, mesmo enfraquecido, Sarney (ainda) está protegido.
Porém (e em política sempre existem muitos "poréns"), as verdades na política são eternas até que sejam desmoralizadas. Não é impossível que Sarney tenha que renunciar à presidência do Senado para salvar o seu mandato. No radar político de hoje, tal hipótese configura-se como possível, mas improvável. Por analogia, o risco existe, já que figuras poderosas e articuladas como ACM, Barbalho e Renan caíram em situação semelhante. Além do mais, os absurdos cometidos pelas gestões anteriores e que tiveram as digitais de Sarney (e de seus antecessores), seriam suficientes para sua cassação. Para evitar riscos, Sarney deve agir com a máxima prudência e evitar, de toda a forma, que novas revelações elevem a temperatura do ambiente.