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Governo ganha legitimidade

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O Tempo – 19/10/2016
Por Murillo de Aragão
Quinze dias depois da eleição municipal do “Fora, PT”, que subtraiu 50 milhões de votos do partido, duas palavras foram banidas da política: “golpe” e “Dilma”. Ruiu também o discurso da suposta falta de legitimidade do presidente Michel Temer, cujo argumento era o de que vice não recebe voto, só o cabeça de chapa.
Depois da expressiva vitória de Temer na Câmara, ao aprovar a duríssima medida de controle dos gastos públicos, percebeu-se o óbvio: ilegítimo havia se tornado o relacionamento dos presidentes dos governos petistas com o Legislativo. Prova disso foi a existência do mensalão e do petrolão, mecanismos de corrupção que exigiram operações como a Lava Jato para combatê-los.
Temer, ao contrário, negociou com a Câmara sem outras moedas que não os argumentos em defesa do freio no descontrole das despesas ou o estabelecimento de um compromisso para durar 20 anos. Levou para o jantar com os deputados dois economistas encarregados de explicar a filosofia da medida. Atribui-se sua autoria ao governo atual, mas, na verdade, a PEC é uma decorrência da falta de alternativas legada pelo governo anterior, afastado por crime de responsabilidade.
É impressionante a persistência do PT no erro. Em 2014, elegeu Dilma Rousseff escondendo uma crise cujos estragos estavam tão à mostra que racharam o país (a vantagem sobre o tucano Aécio Neves foi de 2,2% em segundo turno). Empossada, Dilma chamou para comandar o ajuste que passara a campanha desmentindo um técnico defensor do programa econômico derrotado nas urnas, mas negou-lhe os poderes imprescindíveis ao sucesso.
Alvo de um processo de impeachment lastreado em um turbilhão de evidências, manteve-se no bunker do Palácio da Alvorada embriagando-se de fantasias, como a convocação de eleição direta para presidente, o que é inconstitucional. Afastada, xingou os adversários de “golpistas”; expostos às eleições, slogan e discurso de seu partido foram rejeitados, e o afastamento, confirmado do Oiapoque ao Chuí. Há dois anos, o PT é sistemática e duramente contestado em todas as instâncias da sociedade – plenários, mídias, redes e urnas.
Apesar disso, seus principais líderes e militantes não aceitam a realidade, por isso não reconhecem os próprios erros; logo, não fazem autocrítica. Na metade de seus 13 anos no poder, o partido fez um mau governo e hoje apela para a velha oposição sistemática, obstruindo o governo nos plenários, uma vez que foi expulso das ruas pelo voto em primeiro turno.
Nas circunstâncias em que assumiu, porém, o presidente se robustece à medida que impõe sua liderança, conforme ocorreu com a aprovação da PEC 241/2016, a PEC do Teto dos Gastos. A ampliação da liderança depende de dois componentes: tempo e bons resultados, principalmente na economia.
Até aqui, Temer tem se valido de suas conhecidas habilidades para dialogar e explicar aonde pretende chegar, como sugeriu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com quem almoçou no feriado do dia 12 de outubro. Outro ponto forte no presidente é a naturalidade com que admite erros e corrige rotas, preservando a essência das propostas que tem oferecido em diferentes áreas de atuação.
Em menos de dois meses de mandato, Temer já conviveu de maneira exitosa com todos os elementos que constituem a vida democrática: eleições, medidas amargas, votações duras no Legislativo e reação – até aqui favorável – dos indicadores que pautam o humor da economia. Em todos eles, suplantou a nova oposição, essa, sim, sem rumo desde que foi arrastada pela crise que ela própria gerou.