A redução do superávit primário anunciada pelo governo reduz a "poupança" do governo para o pagamento da dívida pública federal. Com a nova fórmula do governo, o esforço fiscal cai para 3,3% do PIB. A primeira leitura é obviamente política: o governo vai gastar mais por causa das eleições. é uma leitura correta e óbvia. Afinal qual é governo, no atual e falido modelo de gestão pública, que não faz o mesmo?
Duas considerações devem ser feitas. Como disse, o modelo está falido. O gasto público deveria ser feito com base na execução do orçamento independente do gosto do governante. No orçamento, o esforço fiscal para reduzir a dívida pública deveria ser estabelecido no Congresso e cumprido. A alocação de recursos públicos deveria seguir uma lógica do interesse do cidadão e não da corrida eleitoral. Infelizmente, não é assim que funciona no Brasil.
Deixando o campo do ideal, a decisão do governo em reduzir o superávit primário é correta. O mundo inteiro está se esbaldando em gasto público para sair da crise. O mercado, que era o grande fiscalizador do superávit primário brasileiro, deixou de ter poder de "polícia". Está desmoralizado e dependente de ajuda e intervenção pública. Assim, nada mais coerente que o governo aumente o gasto para injetar ânimo na economia.
No cenário de curto-prazo, não há maiores problemas. A longo prazo, a prática deve ser repensada já que a prática de superávits primários exuberantes foi o pilar da conquista da confiança na economia brasileira.