Os episódios ocorridos na esfera institucional revelam as várias faces do autoritarismo que sobrevive no Brasil. De um lado, com uma metodologia “lavajatista”, o STF deflagra uma operação com a Polícia Federal que exagera em seu escopo e parece querer mais retaliar do que realmente investigar.
Por outro lado, o governo reage com palavras duras. O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na manhã de hoje que, devido aos cumprimentos de mandado da Polícia Federal, ontem foi um “dia triste da nossa história”, mas que foi o “último”. E, para amenizar, disse que “nós queremos a paz, harmonia, independência e respeito. E democracia acima de tudo”.
Disse também: “Com todo o respeito que eu tenho a todos integrantes do Legislativo, do Judiciário e do meu próprio poder, [mas] invadir casas de pessoas inocentes, submetendo a humilhações perante esposas e filhos, isso é inadmissível.” Para Bolsonaro, o STF quer acabar com a mídia pró-governo.
As declarações do presidente têm algumas consequências importantes. Em primeiro lugar aumenta em muito a tensão entre os poderes. Segundo, une ainda mais o STF contra o governo. Terceiro, haverá repercussões políticas, no sentido de que o Centrão se valoriza ainda mais como elemento de proteção ao governo.
No curto prazo, há um aspecto importante a ser observado. O ministro da Justiça André Mendonça apresentou habeas corpus contra decisão do ministro Alexandre de Moraes que deu cinco dias para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, prestar depoimento no inquérito das ‘fake news’ contra a Corte. A determinação partiu após a revelação de falas do ministro durante a reunião de governo no último dia 22 de abril, quando defendeu prisão para os integrantes do STF. Não podemos descartar a possiblidade de o STF determinar a condução coercitiva de Weintraub.
Para alimentar a fogueira de insanidades, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) criticou ontem (27) a atuação dos ministros do Supremo, afirmou não ter dúvida de que será alvo de uma investigação em breve e disse, ainda, que participa de reuniões em que se discute “quando” acontecerá “momento de ruptura” no Brasil.
O inacreditável do momento é que estamos em meio à maior crise sanitária da história do Brasil desde a gripe espanhola. Quando as prioridades das instituições deveriam estar no combate à pandemia. A situação instalada revela ser mais um “stress test” para a democracia no Brasil. Apesar das palavras e atitudes, algumas vezes, irresponsáveis, a ruptura institucional não deve ocorrer. Mas viveremos tempos de intensidade política tumultuada. O que, no mínimo, vai atrasar ainda mais a saída da grave crise econômica decorrente da pandemia.