A semana passada terminou com a percepção consolidada de que as autoridades estão mais interessadas no embate político e em seus dividendos do que no combate à epidemia de coronavírus. Não é bem assim. O problema é que os embates geram mais ruído do que os trabalhos desenvolvidos.
Dois fatos chamam a atenção: os desencontros que emanam do governo federal em relação ao que fazer sobre a crise; e a fragilidade da política de comunicação do governo federal. Por um lado, ela se mostra eficaz em atualizar os dados, mas, por outro, dá a impressão de estar mais preocupada em agradar ao público originário de “bolsonaristas” do que informar o país.
A Presidência da República não tem convicção sobre a eficácia de uma quarentena generalizada e se posiciona fortemente contra a sua adoção. Por outro lado, o mesmo governo, quando se manifesta pelas autoridades sanitárias, defende a recomendação da quarentena. Não devemos esquecer que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse (20) que até o final de abril o sistema de saúde brasileiro vai entrar em colapso pela epidemia do novo coronavírus. “O que é um colapso? Você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, mas simplesmente não há sistema para você entrar”, explicou.
A falta de convicção termina por encobrir o enorme esforço que a máquina federal está fazendo para enfrentar a situação. Apenas nos dias úteis da semana passada, o governo federal editou mais de 68 atos, decretos, portarias, entre outras decisões, e anunciou pacotes financeiros que ultrapassam a casa dos R$ 700 bilhões.
Ao emitir sinais contraditórios e não ter uma estratégia de comunicação eficiente, o governo corre sério risco, pois aposta contra um inimigo imprevisível: a epidemia. Morrendo poucos, tudo será esquecido. Morrendo muitos, a culpa será do governo federal, que, justa e injustamente, é considerado culpado por tudo o que acontece no país.