Em artigos anteriores, comparei o Brasil com um centro-avante que se torna uma celebridade pela impressionante quantidade de gols que perde. Mas agora, parece que o Brasil desencantou. Chegou a hora de o goleador ser reconhecido pelo seu extraordinário talento de artilheiro. Graças ao seu imenso potencial e situação geopolítica, há muito tempo o país já deveria estar surfando os bons resultados da economia. No entanto, não somos tudo o que poderíamos ser. Por que não realizamos nosso potencial? Pela simples razão que, como pilotos, somos piores do que o carro que dirigimos.
O Brasil é mal pilotado. Tanto em de virtude da incúria e e/ou incompetência de quem manda, quanto pelo desinteresse e pela falta de educação de quem recebe as ordens. Para piorar, temos fatores culturais perversos: a desinformação, a falta de educação, a opacidade, as desigualdades, o caráter pedestre do debate político, entre outros. Como sociedade, o país está de cócoras para o estado. Nada de novo. Afinal, somos uma invenção do estado português.
No entanto, por uma combinação de fatores que vão desde as vésperas do Plano Real, em 1994, até os dias de hoje, além de nossas potencialidades e vantagens comparativas, o Brasil pode se tornar aos olhos da comunidade financeira internacional a bola da vez, no sentido positivo da expressão. Não me surpreende. Em meio ao final da crise de 2008, afirmei que o Brasil iria viver um boom econômico por causa dos investimentos estrangeiros, da amplitude do mercado interno, do crescimento da renda e da maior oferta de crédito, entre outros fatores.
A posição de estrela não é fácil, como alguns podem pensar. No passado, a falta de ousadia e de competência travava o desempenho do país. Hoje corremos novos riscos, que podem ser considerados efeitos colaterais do sucesso que começamos a desfrutar aos olhos do mundo. As perspectivas de êxito podem contaminar o comportamento do país com um misto de arrogância e displicência. Pode ser mortal. O Brasil não pode agir como se o dinheiro do pré-sal já estivesse no bolso e o crescimento projetado para 2010 já fosse fato consumado.
Será um grave erro acreditar que tudo está dado e, por conta de uma combinação de Copa Mundo, Olimpíadas e pré-sal o Brasil chegará automaticamente ao paraíso. As oportunidades que se apresentam são excepcionais. únicas na história do Brasil. Poucas vezes na história moderna um país experimenta uma combinação de perspectivas tão promissora. Trata-se de uma oportunidade excepcional, não podemos desprezá-la nem reduzi-la a um fato consumado. Esta geração tem a possibilidade tanto de resgatar dividas históricas quanto assegurar vida melhor para filhos e netos.
Combater os efeitos colaterais implica em uma série de atitudes prudentes que devem orientar o país. A primeira delas é a de não abri mão do controle rigoroso das contas públicas. Devemos proteger nossas reservas assim como evitar que a dívida pública venha a subir muito. Precisamos manter nossa arrecadação tributária forte. Na seqüência, é imprescindível prosseguir com uma agenda de micro-reformas – já que não queremos fazer as grandes reformas – de maneira a simplificar o ambiente de investimentos públicos e privados no país.
Governo e sociedade devem se empenhar em aumentar os níveis de governança e de transparência dos gastos públicos e do funcionamento da máquina administrativa. A sucessão presidencial se apresenta como uma excelente oportunidade para o debate sobre o que queremos fazer com o futuro do Brasil.