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Ecos da Guerra Fria? Por Murillo de Aragão

Para muitos, o que se passa na Ucrânia são ecos da Guerra Fria. Outros afirmam que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, quer recuperar a grandeza da antiga União Soviética ao flexionar os músculos sobre a Ucrânia. Não é nada disso. Tais considerações são narrativas que querem atribuir significados maiores para o que se passa hoje na região.

A Rússia atual tem nas reservas[K1] cambiais, na abundância de energia e nas bombas atômicas as suas armas. Mas não tem narrativa, já que o comunismo ficou passé, nem exército hábil para invadir a Europa. Com 52% da população dependendo do Estado e uma elite pendurada no governo e nas empresas de energia, e tendo como principal fonte de renda a venda de energia para a Europa, que passa pela Ucrânia, Putin tem no público interno a sua maior preocupação.

Putin sabe que se as coisas piorarem demais por lá, ele poderá ser defenestrado pelo establishment que ele mesmo controla. Uma briga com a Ucrânia não é bom negócio. Só que provocar cisões em um país internamente dividido não demanda grande esforço. Qualquer um mais informado sabe que existem regiões na Ucrânia que são muito mais russas do que ucranianas. E que preferem ficar sob o manto do "império" russo.

A Ucrânia, pelo seu lado, é um país que luta com os próprios problemas. Um deles é que muitos de seus cidadãos não se sentem ucranianos. Daí o fato de a Crimeia ter mudado de lado em um minuto. A Ucrânia deve reconhecer suas limitações e a vontade dos que não querem ser ucranianos. São movimentos típicos de regiões superpovoadas de etnias, cujos limites fronteiriços não se encontram com os sentimentos nacionais.

Obviamente, a guerra não interessa a ninguém. Apenas aos generais que precisam da narrativa do conflito para manterem suas forças preparadas. Ao Brasil, pragmaticamente, a Rússia já mandou o seguinte recado: "Quer vender para nós? Fiquem de fora da conversa". Recado recebido, lição entendida.