Lembro muito da figura de Dom Eugenio Sales no Rio de Janeiro nos anos 70. Seu semblante fechado e seu cabelo curto, quase militar, causava a impressão de ser uma pessoa dura. Suas posições sempre conservadoras reforçavam essa imagem.
No entanto, Dom Eugenio era uma figura que conciliava seu tradicionalismo religioso com um progressismo no tocante às questões sociais. Foi um dos mais atuantes fundadores da Comunidades Eclesiais de Base, entre tantas outras iniciativas. Atuou em defesa dos direitos humanos de forma relevante ainda que não tenha tido o mesmo destaque de Dom Paulo Evaristo Arns.
Foi essencial na proteção de perseguidos políticos no regime militar. Teve coragem cívica e moral de peitar autoridades que questionavam suas atitudes. Foi, acima de tudo, um grande exemplo para a vida religiosa. O episódio da pomba branca que pousou em seu caixão reforça ainda mais o caráter abençoado de sua trajetória.