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Disputas partidárias e fogo-amigo inauguram corrida sucessória de 2010


As disputas partidárias no PT e PSDB, o fogo-amigo dentro do governo e o fim do casamento PSDB-PFL mostram que a sucessão presidencial já começou e terá ciclos de maior ou menor intensidade ao longo dos próximos quatro anos.


 


As disputas são alimentadas, sobretudo, pelos seguintes fatores:


 



  • Alojamento/desalojamento de partidos aliados no novo ministério;

  • Expectativa da reforma política e suas conseqüências;

  • Fim da verticalização para 2010;

  • Ausência de candidato presidencial natural no PT;

  • Existência de três candidatos potenciais no PSDB;

  • Feridas ainda não curadas do processo eleitoral.

 


Os textos a seguir tratam dos tópicos mencionados:


 


ðO Retorno do Fogo Amigo. Os escândalos que aconteceram no governo Lula, todos eles envolvendo o partido do presidente, deixaram o PT acuado nestes últimos meses, forçando a legenda a preocupar-se mais em resolver seus problemas internos e desafios eleitorais. Em conseqüência, o fogo-amigo foi reduzido consideravelmente. A prioridade era manter o market share no mercado político.


 


O partido sabia que não tinha força política, nem moral, para questionar as decisões do presidente. Por isso, o PT teve que, a contra gosto, aceitar decisões e situações que contrariavam os interesses de parte majoritária da legenda. Por exemplo, a excessiva autonomia operacional do Banco Central, garantida pelo próprio presidente, e o paloccismo da política econômica.


 


Graças ao excepcional desempenho de Lula, o PT saiu muito bem desta eleição. Elegeu 81 deputados federais uma queda de apenas dois em relação ao número atual, e cinco governadores (Acre, Bahia, Piauí, Sergipe e Pará). Ainda que algumas vítimas tenham ficado pelo caminho, foi como uma espécie de perdão popular a todas as trapalhadas cometidas.


 


Vencido o desafio eleitoral, o partido luta para não perder espaço no governo e recuperar o predomínio ideológico. O que estará em disputa no PT, a curto prazo, são cargos (espaço no governo) e idéias (política econômica) e, a médio prazo, a hegemonia na sucessão presidencial de 2010.


 


Para atingir seus objetivos, inicialmente tenta encurralar o presidente com declarações desafiadoras tanto para a autoridade presidencial quanto para a estabilidade das expectativas.


 


Marco Aurélio Garcia, que se equilibra entre três funções (formulador da política externa, assessor do presidente e presidente do PT), disse que o partido não estava submetido à lei do silêncio imposta por Lula. Ou seja, o ministério fica calado e o PT faz barulho. Não funcionou assim nos anos iniciais da era Lula.


 


O partido também atrapalha o presidente quando resiste a reconhecer a necessidade de ceder espaço no governo para os aliados, uma condição vital para a garantia da governabilidade. Com essa atitude, o PT se mostra tão ou mais fisiológico quanto o PMDB, o que não é novidade.


 


Outro vetor de estímulo ao fogo-amigo será a questão eleitoral de 2010. Sem candidato natural à Presidência, Lula vai assistir a uma luta renhida de pré-pré candidatos (Marta Suplicy, Tarso Genro, Jacques Wagner, Marcelo Deda, Tarso Genro, entre outros) por cargos e poder.


 


Como a tendência é que Lula não ceda às pressões do partido na política econômica e a legenda perca algum espaço no governo para aliados, o fogo-amigo no segundo mandato está assegurado. Será maior ou menor de acordo com o espaço do PT no governo, o sucesso da política econômica e a aprovação popular de Lula.


 


 


ðA disputa pela Presidência do PT. O Diretório Nacional do PT se reúne, nos dias 25 e 26, para discutir mudanças no comando da legenda. O atual presidente, que está temporariamente afastado, Ricardo Berzoini tenta permanecer no cargo. Mas sua permanência é considerada uma possibilidade remota.


 


Quatro nomes são os mais cotados: Fernando Pimentel, Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro e Jorge Viana. Nenhum deles encontra resistência dentro do Palácio do Planalto. Mas Tarso Genro e Jorge Viana são os preferidos.


 


O comando da legenda será especialmente importante por três motivos: recuperar a imagem do partido desgastada nas últimas gestões; dialogar com o governo sobre as características do novo governo; e preparar o partido para a eleição municipal (2008) e presidencial (2010).


 


ðA disputa pela Presidência do PSDB. Além da presidência do partido, de onde Tasso Jereissati não quer sair, a disputa entre os presidenciáveis já ocorre na escolha do líder do partido na Câmara. José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin indicaram seus


nomes. Como no PT, a guerra já antecipa, a exemplo do que acontece no PT, a questão sucessória.


 


ðCasamento Rompido. Na semana passada, em nota oficial logo em seguida abafada, o PFL anunciou que está rompendo com o PSDB a parceria que elegeu FHC e concorreu com Serra e Alckmin. Magoado com os episódios da campanha, o partido anunciou que vai disputar a presidência com candidato próprio em 2010.


 


ðMudanças na legislação eleitoral. O fim da verticalização já foi aprovado pelo Congresso Nacional e, caso não seja novamente alterado, valerá para 2010. Como desvincula as coligações federais das estaduais, a regra poderá aumentar o número de candidatos presidenciais no próximo pleito. Além disso, no bojo da reforma política (financiamento público de campanha, lista fechada e fidelidade partidária) discute-se o fim da reeleição. Assim, a disputa para os governos estaduais e da Presidência da República pode ficar ainda mais acirrada.