Ao longo do mês passado, Dilma Rousseff ganhou alento apoiada em três constatações: a certeza de que a grande mídia não embarcaria no impeachment, a declaração no mesmo sentido de Roberto Setúbal e a entrevista de Fernando Henrique Cardoso dizendo que a presidente é uma pessoa honrada.
Criou-se, a partir dessas declarações e percepções, um sentimento de alívio no governo. Respaldada, Dilma sentiu-se fortalecida para enfrentar seus desafios e dedicou-se à articulação política. Conversou com Renan Calheiros e com Eduardo Cunha. E visitou Gilberto Kassab, de surpresa, em seu aniversário, entre outras iniciativas.
No entanto, o bom momento foi rapidamente destruído por uma série de atitudes desastrosas. Quatro delas merecem destaque: a saída de Michel Temer da coordenação política, o encaminhamento da questão da CPMF, a decisão de admitir déficit primário para o Orçamento de 2016 e a arbitragem em favor de Nelson Barbosa – em detrimento de Joaquim Levy – no debate fiscal.
Na esteira desses quatro gestos infelizes e na iminência de o Brasil perder o investment grade, a presidente declarou que não fará nenhum corte orçamentário. Ou seja: não reconhece a gravidade da situação fiscal. A soma de trapalhadas acendeu, outra vez, a luz amarela no establishment a respeito da viabilidade de Dilma Rousseff na presidência.
É sintomático o espaço dado às declarações de Michel Temer sobre o assunto e o destaque conferido à uma dura frase de Flavio Rocha, ex-deputado federal e presidente do grupo Riachuelo (varejo e confecções), em O Estado de São Paulo, na sexta-feira passada: “Com o impeachment, a agonia seria curta”. Outros começam a pensar que a razão principal da crise é a permanência de Dilma na presidência.
O raciocínio está se cristalizando a partir de dois vetores: a demora do governo em tomar as medidas indispensáveis para estabilizar as expectativas políticas e econômicas e a forma vacilante com que o Planalto encara a dramática necessidade de mudanças em seu ministério. Ambos revelam grave déficit de entendimento sobre a crise.
A maneira do establishment encarrar a situação irá se consolidar, ou não, nas próximas semanas, à luz das decisões que Dilma tomar. Pode ser que, em setembro, ela esteja jogando o futuro de seu mandato. Nunca, em quatro anos e meio de presidência, Dilma precisou ser tão competente e pragmática como agora.