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Dependência do petróleo ameaça economia do México e da Venezuela

Uso político de Pemex e PDVSA faz com que grupos percam capacidade de expansão e de atualização tecnológica


Veja matéria de Nicola Pamplona publicada no Estado de São Paulo de hoje:  


A exaustão do campo de petróleo de Cantarell, o maior do México, é sinal de alerta para países com grande dependência de petróleo. Responsável por 37% da arrecadação do governo mexicano, a estatal Pemex vê sua principal fonte de receita se esvair, ao mesmo tempo em que encontra dificuldades para expandir suas operações. Especialistas prevêem problemas semelhantes para a venezuelana PDVSA, caso a companhia não consiga comprovar a existência de reservas gigantes na Faixa do Orinoco.

Maior campo marítimo do mundo, Cantarell já produziu, desde que foi descoberto em 1976, 11,5 bilhões de barris de petróleo. Volume pouco inferior às reservas brasileiras atuais. Em 2006, o campo produziu uma média de 2 milhões de barris/dia, 60% de todo o petróleo extraído no país, e as perspectivas não são animadoras: segundo a Pemex, a produção média de 2007 deve ficar em 1,683 milhão de barris/dia. Em 2008, cai a 1,430 milhão de barris.

A questão vem provocando um intenso debate no México, onde o governo tenta convencer a população a abrir o setor de petróleo ao investimento privado, como uma tentativa para atrair novas tecnologias. O México é um dos mercados mais fechados às petroleiras multinacionais e é consenso no mercado que o monopólio, que já dura quase 60 anos, levou o país a perder o bonde tecnológico que movimentou a indústria nas últimas décadas. A Pemex perdeu capital humano e tecnológico, diz
Thiago de Aragão, analista político da consultoria Arko Advice.

O problema pode ter graves conseqüências para a segunda maior economia da América Latina. Já há quem estime que o México, 5º maior produtor mundial, possa se tornar importador de petróleo a médio prazo. O Estado mexicano sempre usou muito a Pemex para se financiar, mas agora que a produção tende a cair, fala-se cada vez mais em algum tipo de reforma para tornar a empresa mais autônoma e eficiente, diz o analista Erasto Almeida, da consultoria americana Eurasia Group.

Para ele, o México deve servir de exemplo à Venezuela, onde a indústria de petróleo tem participação ainda maior na economia. Dados do World Factbook, da Agência de Inteligência Americana (CIA), apontam que o setor é responsável por 90% das exportações e 50% das receitas do país. A estatal local PDVSA é ainda importante instrumento para políticas sociais do governo Hugo Chávez: apenas no ano passado, a empresa aportou US$ 2,3 bilhões em um fundo chamado Fondespa, que investe em habitação, infra-estrutura e educação; além de US$ 987 milhões nas chamadas missões sociais, projetos do governo em regiões carentes.

A PDVSA sempre foi muito importante para equilibrar as contas do Estado, mas com Chávez o grau de ingerência política tem aumentado e tende a piorar, causando piora também nas contas da empresa. Talvez a PDVSA seja a Pemex de amanhã, compara Almeida. A Venezuela, porém, é mais receptiva às companhias estrangeiras que, desde o início do ano passado, operam no país em empresas mistas, com 60% de capital estatal. Para os especialistas, isso pode ajudar no intercâmbio de tecnologia.

A Venezuela tem grande expectativa de confirmar a existência de reservas gigantes na Faixa do Orinoco, região com jazidas já conhecidas de óleo ultra-pesado. Segundo estimativas do governo, se comprovadas as descobertas, o país pode passar a ter as maiores reservas mundiais, superando a Arábia Saudita. A Venezuela tem petróleo, mas como está explorando há muito tempo, a extração fica cada vez mais difícil, avalia Aragão.

Ele concorda que a PDVSA sofre processo semelhante ao já passado pela Pemex, de sucateamento tecnológico. O governo não exige modernização da companhia porque há abundância de petróleo, por enquanto, diz. A empresa não precisa focar em redução de custos ou operações mais eficientes para maximizar a receita e, hoje, melhores resultados dependem da influência do governo na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), completam, em relatório, pesquisadores do James Baker III Institute for Public Policy.

PETROBRÁS

Com números mais modestos do que Pemex e PDVSA, a Petrobrás enfrenta situação mais confortável. Na linha de frente da tecnologia de exploração em águas profundas, a empresa estima ter pelo menos 10 bilhões de barris a explorar, que seriam suficientes para praticamente dobrar as reservas brasileiras atuais. Especialistas lembram ainda que a companhia expandiu suas atividades internacionais – ao contrário de Pemex e PDVSA, que exploram petróleo apenas em seus territórios – e tem parcerias com companhias de todos os portes, o que ajuda na troca de tecnologias.

Mas, mesmo em caso de problemas com a empresa, seu impacto na economia nacional é bem menor. O petróleo representa apenas cerca de 5% das exportações brasileiras e algo em torno de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) – valor semelhante ao do México e três vezes menor do que na Venezuela. A importância fiscal da Petrobrás é mais recente e relativamente bem menor. Além disso, a empresa tem reinvestido lucros e crescido com sucesso, destaca Almeida.

De qualquer forma, a preocupação sobre os destinos das estatais do petróleo é crescente no mercado, uma vez que elas hoje controlam 77% das reservas mundiais, segundo dados do Baker Institute.