Vamos ao exemplo. O ministro X quer um programa de incentivos fiscais semelhante ao do Ministro Y. Mexe os pauzinhos e consegue avançar com a idéia.
Receoso de perder parte das verbas e do poder, a estrutura burocrática do ministério Y avisa ao ministro: vamos dançar nas verbas. Não podemos permitir.
Temeroso de perder poder de dar subsídios e isenções, o ministro Y chama os beneficiários do seu programa e alerta para o risco da medida vir a beneficiar o público do ministério X.
O público Y vem a público e coloca-se na batalha contra os privilégios (que eles têem) e que não querem dividir com o público X.
Bem, agora troque o X por Ministério dos Esportes e o Y por Ministério da Cultura. É assim que está acontecendo agora.
Os artistas, todos com cara de compenetrados e de que estavam entendendo o alcance cívico de sua cruzada (foto de O Globo de ante-ontem), foram mobilizados por Gilberto Gil para que não perdessem a exclusividade da boquinha fiscal.
Não querem dividir os benefícios fiscais com a área de esportes que sabem ser mais sexy para o investidor e com retorno mais rápido do que, provavelmente, a maioria das iniciativas culturais beneficiadoras de incentivos fiscais.
Funciona assim em Brasília. Ministérios da periferia (como Esporte e Cultura) disputam as sobras da farra orçamentária e se amarram a programas de isenções e benefícios fiscais para subsidiar suas iniciativas. Quem não chora, não mama.
Para os patrulheiros de plantão: os ministérios são de periferia por conta da tratamento orçamentário que recebem! Cultura e Esportes não são tema de periferia.