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A fim de afastar o risco de rebaixamento por parte das agências de classificação de risco e recuperar a credibilidade no mercado financeiro, o governo anunciou um corte de R$ 44 bilhões no orçamento da União. Além disso, prometeu entregar um superávit primário de 1,9% do Produto Interno bruto (PIB), o equivalente a R$ 99 bilhões.
 
Parte do objetivo do governo foi atendida. O mercado considerou o anúncio positivo, embora diga que será necessário acompanhar com lupa a execução do orçamento para verificar a consistência do corte. As agências de classificação de risco Moody’s e Fitch divulgaram nota afirmando que o país está na direção certa.
 
O governo decidiu os cortes também olhando para as urnas. Por isso fez questão de preservar duas áreas que motivaram protestos durante as manifestações de rua em junho de 2013 e que são justamente as mais mal avaliadas pelos eleitores. De acordo com a última pesquisa CNT/MDA, os dois setores que mais precisam de melhorias no Brasil são saúde (84,4%) e educação (47,6%).
 

R$ milhões

área

Lei Orçamentária 2014

Saúde

82.294,1

Educação

42.298,8

Desenvolvimento Social

31.703,7

Ciência, Tecnologia e Inovação

6.869,5

  
 
O lado ruim é que parte dos cortes recai sobre as emendas de parlamentares, o que, com certeza, vai gerar ainda mais tensões com a base política. Evidentemente, ninguém, em momento de corte, deve ser poupado. Porém, recaiu sobre as emendas parlamentares o maior quinhão. A Lei Orçamentária prevê R$ 19,76 bilhões em emendas parlamentares, e o governo cortou R$ 13,30 bilhões, reduzindo seu valor para R$ 6,46 bilhões.
 
Outro aspecto negativo é que a meta anunciada é a menor desde 1998. Não seria crível manter o mesmo número de então, mas, caso este superasse 2%, o impacto positivo seria bem maior.
 

Ano

Superávit primário

(% do PIB)

1998

0,02

1999

3,23

2000

3,47

2001

3,21

2002

3,22

2003

3,27

2004

3,72

2005

3,79

2006

3,20

2007

3,31

2008

3,42

2009

2,00

2010

2,70

2011

3,11

2012

2,39

2013

1,90 (a meta era de 2,3%)

2014

1,90 (meta)

Fontes: Banco Central e Ipeadata 
 
 
A medida não deve recuperar, de pronto, a credibilidade da equipe econômica, notadamente, Fazenda, Tesouro e Planejamento. O desgaste de imagem de Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional, é muito grande.  No entanto, é uma reação positiva.
 
Outro fato que deve ser observado é que o ex-governador José Serra (PSDB), ao avaliar a economia brasileira, não foi tão crítico como muitos do seu partido e do mercado. Sua avaliação foi serena e consistente.
 
O Brasil, hoje, vive um típico momento “mais ou menos”. Onde o “mais” aparece menos do que deveria. E o “menos” se destaca mais do que o razoável. Voltando ao ponto inicial, a equipe econômica, ainda que atrasada, mostrou discernimento frente às expectativas negativas criadas. 
 
Para produzir o que se reconhece como “momentum”, Dilma Rousseff deveria aprofundar a retomada da credibilidade com outras medidas. Seria uma quebra de paradigma. Infelizmente, não esperada. Nossos governos tendem a agir sob pressão.